23 fevereiro 2016

«THOSE WITH LOADED GUNS... AND THOSE WHO DIG»

Há cinquenta anos, nos tempos em que Sergio Leone realizava os seus Westerns Spaghetti percebia-se o Mundo. Em primeiro lugar as disputas processavam-se todas numa só divisa: o dólar, como se percebe por estes cartazes adjacentes. E depois, entre aqueles que se disputavam e disputavam a posse dos dólares, e como Clint Eastwood explica primorosamente no vídeo que aparece mais abaixo, havia os que tinham as armas carregadas (those with loaded guns) e havia os outros, os destinados a cavar como Eli Wallach (you dig). E isso era verdade tanto na ordem internacional quanto na ordem interna. Havia as superpotências que, no formato de armas nucleares, eram as que possuíam as loaded guns que impunham a ordem internacional;
...e quando as potências permitiam e dentro das respectivas esferas de influência, havia os que possuíam as loaded guns nas ordens internas nacionais (tradicionalmente eram os militares), que davam uns golpes de Estado para que tudo se comportasse conforme. E quem tinha que cavar (há sempre alguém que acaba a cavar nestas histórias...) lá cavava. O que mudou depois de 1989 é que agora já não se usam as armas carregadas embora se use o dinheiro – e já não necessariamente apenas dólares, que os euros adquiriram entretanto muita força – para intimar os outros a cavar. De uma certa forma, é como se Clint Eastwood e Eli Wallach tivessem repartido afinal o tesouro que perseguiram ao longo de todo O Bom, o Mau e o Vilão e agora se tivessem instalado como respeitáveis banqueiros.

Mas, se Sergio Leone ressuscitasse e fizesse uma sequela daquele filme (talvez já não um Western Spaghetti...), creio que continuaria a tratar aquelas duas personagens como os escroques pouco fiáveis que nunca deixaram de ser. Mas o problema principal dos dias que correm nem sequer é esse, o da amoralidade dos que fazem os outros cavar. O problema principal é identificá-los. Quem são? Os que empunhavam as armas carregadas tinham-nas à mostra. Actualmente, sabendo-se quem deve, não se sabe a quem se deve. Cava-se para benefício de quem? Porque quem pensasse que, simplificadamente, tudo acabava no bolso de alguns empórios alemães deve ter ficado bem surpreendido com as (más) notícias a respeito do Deutsche Bank. O enredo desta (outra) história parece bem mais complicado.

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