[O modelo socialista]...tinha necessariamente de falir porque foi concebido para redistribuir a riqueza e não para a produzir.(Helena Matos num artigo de opinião do Observador intitulado Já perceberam ou querem que eu faça um desenho?, 31/1/2016)
Porque vou invocar batalhas, apetece-me dizer para preâmbulo que, quando a batalha é a da argumentação política, a primeira vítima desse género de conflito costuma ser a Verdade. Se bem recordo, e, precisamente ao contrário daquilo que é sugerido mais acima por Helena Matos, a maior preocupação dos países do dito modelo socialista era mesmo com a produção, transformada belicosamente e para efeitos de propaganda em batalha da dita. Nesta edição de 16 de Maio de 1975 de um jornal português (O Jornal), em pleno apogeu do PREC, e numa página encimada pelo famoso slogan da Batalha da Produção, porque todos queríamos ser socialistas escrevia-se um pouco sobre os manuais tácticos de tais batalhas travasse-se a guerra em Cuba, na União Soviética, na Jugoslávia ou até mesmo, imagine-se, nos Estados Unidos da época do New Deal de F.D. Roosevelt.
Do que eu não me lembro é que se escrevesse muito sobre a distribuição e da redistribuição, fosse da riqueza, fosse ela de tudo o resto. Tanto era assim que, em vez do desenho que Helena Matos ameaça fazer no seu artigo, o tópico da distribuição sob o socialismo era sobretudo objecto de imagens, fotografias das filas que os cidadãos que viviam sob o modelo socialista faziam para conseguir artigos tão prosaicos quanto papel higiénico ou então fotografias de um convencional supermercado socialista, que se distinguia dos ocidentais por poder exibir desavergonhadamente corredores com prateleiras completamente vazias (acima). Nesse aspecto sim, com excepção dos camaradas imbuídos da fé, a falência do modelo era óbvia, as imagens resultantes eram mortíferas.
Em contrapartida, sob o modelo liberal hoje predominante, a atitude é que a produção deixou de ser batalhada e a distribuição flui naturalmente como o champanhe da fotografia acima que, vertido sobre a taça no topo acaba por escorrer para as restantes taças que formam a pirâmide depois das de cima estarem saturadas, acabando por as encher a todas. Essa pirâmide é, naturalmente, uma representação da pirâmide social. É só pena que, nos mais de duzentos anos que se seguiram à descoberta da teoria económica de Adam Smith, os seus seguidores não tivessem descoberto essa outra força que exercesse um fluxo de transferência das riquezas para baixo que complemente a analogia, e se assemelhe à acção da gravidade que acima vemos a distribuir o champanhe pelas taças da base da pirâmide. A distribuição da riqueza tende a criar uma pirâmide de taças de um formato diferente onde o champanhe não flui: mesmo sem fotos que exibam simetricamente a falência do modelo, conforme se pode ler pelas notícias, os 62 multimilionários mais ricos do mundo acumulam uma fortuna que é equivalente à da metade mais pobre da Humanidade...
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