Um amigo desafiou-me para que comentasse uma das fotografias de António Costa com Angela Merkel, por ocasião da visita do primeiro a Berlim, uma atitude descontraída, de gabardine posta e mão (esquerda) no bolso (não se fosse ver o punho fechado do socialismo...), uma mão direita que até poderia ser interpretada por... um outro género de saudação, não fossem os dedos estarem afastados... Sinto que terei desiludido esse meu amigo quando me socorri, para comparação, de uma fotografia correspondente do antecessor de Costa (à esquerda), de mão juntas, penitente, com a bandeira da União em fundo e uma Angela mais assertiva. Naquele momento, e porque sei que ele me compreenderia, fiz alusão a valores comuns prístinos, coisas da década dos sessentas do século passado, a tempos mais ingénuos das nossas relações com a Europa, em que o ponto alto anual da nossa integração europeia era o festival da eurovisão e a canção portuguesa que nos representava. Pois bem, a pose de Pedro Passos Coelho associava-a a Oração, a nossa penitente representação de 1964 na voz de António Calvário,...
...enquanto que a pose de António Costa era mais O Vento Mudou que foi a nossa representante em 1967, interpretada pelo vozeirão de Eduardo Nascimento, por coincidência um protagonista também assim mais escurinho numa europa caucasiana.
Mas estas analogias, por muito espirituosas que possam parecer, são daquelas que, para empregar uma expressão política que entretanto se consagrou, me ficou a saber a poucochinho. E, para resposta cabal ao desafio que o meu amigo Ricardo me lançara, fui descobrir a fotografia de Angela Merkel que eu creio que melhor representa a sua relação com o nosso país (acima, à direita): por alguma razão Realpolitik é um conceito que se consagrou nas relações internacionais mas a palavra, essa é de origem alemã. Tanto a figura do primeiro-ministro português, como a figura que o primeiro-ministro português faça, são como o arenque, capazes de valer muito pouco entre as preocupações da chancelerina: imaginem que nós nem demos em invadi-los, ao contrário dos refugiados sírios!...
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