Não há momento mais prolífico da generosidade presidencial do que o final do seu segundo mandato. E os conselheiros de Cavaco Silva terão aprendido das presidências anteriores que a melhor maneira de deflectir as críticas (tradicionais - recorde-se no título deste poste a sugestão da famosa frase de Almeida Garrett vinda já do Século XIX) será manifestar essa mesma generosidade agrupando os condecorados em pacotes heterogéneos, como foi o caso desta última leva de Grã-Cruzes da Ordem do Infante - os oito ex-ministros da foto acima, a que há que juntar António Pires de Lima(!). O critério invocado para os selecionar terá sido o de distinguir os milicianos que vieram cumprir comissões de serviço à política. Será por isso, pelo isolamento dos aparelhos dos partidos (algo que não seria bonito Bagão Félix dizer no discurso de agradecimento que fez por todos), que o traço comum que mais os poderá ligar é que de todos, em algum momento das suas carreiras ministeriais, se pediu veementemente a demissão (as excepções serão Pires de Lima - que possui uma misteriosa boa imprensa - e Campos e Cunha - que só ocupou a pasta por quatro meses). De resto há ali de tudo, como na farmácia. Quem tenha saído da experiência com a reputação de competente (Paulo Macedo) e quem o tenha feito com a de incompetente (Vítor Gaspar); quem tivesse uma concepção da política de Educação (Maria de Lurdes Rodrigues) e quem tivesse uma outra, antagónica (Nuno Crato); há mesmo quem tivesse ido ocupar o lugar do outro numa cabala política (Álvaro Santos Pereira e António Pires de Lima); quem tivesse ficado com José Sócrates quase até ao fim (Rui Pereira) e quem o tivesse abandonado logo no início (Luís Campos e Cunha). E a opção por fazer uma caldeirada não impede, mesmo assim, perguntas (im)pertinentes: porquê a ausência de Poiares Maduro do elenco?
A verdade é que a decisão é do presidente e o histórico mostra que, apesar da prolificidade tradicional da época, as piores opções costumam já ter sido feitas a meio dos mandatos. Houve a história daquela senhora que dirigiu uma organização que punha umas bombas e que, já depois do 25 de Abril e apesar da liberdade, se continuou a dedicar à luta armada, e há aquele senhor que, apesar do reconhecimento do mérito empresarial que o presidente lhe manifestou e numa das mais estranhas exibições publicas de amnésia, hoje é muito bem capaz de já não ter de memória se foi condecorado ou não.
É verdade que a memória do Infante tem sido muito maltratada; como a de todas as grandes figuras da nossa História.
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