Para demonstrar o quanto o problema que quero expor é estrutural e endémico na nossa sociedade, escolhi dois episódios que são muito semelhantes mas separados por cinco anos, envolvendo duas organizações locais muito diferentes (a distrital de Aveiro e a concelhia de Coimbra), de partidos diferentes (PS e PSD) e noticiados por jornais diferentes (Correio da Manhã e Jornal de Notícias). A semelhança é que são denúncias de episódios flagrantes de escroqueria daqueles que são praticados aquando da realização de eleições partidárias internas (as reputadas chapeladas eleitorais), nestes dois casos através da forja artificial de militantes eleitores. E o contraste das notícias dificilmente poderia ser maior, entre a fase em que a disputa eleitoral ainda está em curso (acima) e a fase em que, levada a escroqueria à apreciação da justiça, se aproximam as sanções judiciais (abaixo). Acima, a notícia é enfeitada com a fotografia de um dos protagonistas e está recheada de todos os pormenores burlescos que suscitam a nossa indignação (como os 17 novos militantes que se amontoam numa mesma casa ou os 77 que usam o mesmo telemóvel...); abaixo, toda a discrição é pouca, a fotografia mostra o emblema do partido mas ninguém em particular, os cerca de 20 militantes envolvidos na trapaça (que deve ter tido pormenores tão burlescos quanto os relatados acima...) são todos réus anónimos e nem mesmo o deputado da anterior legislatura, apesar de destacado, é devidamente identificado - trata-se de Rui Pedro Duarte. Ora, assim, se quase se consegue perceber nas entrelinhas da notícia a cumplicidade do próprio Ministério Público, não se vai lá. Há que ser-se consequente: ou moderamos o nosso ultraje colectivo ao denunciar os factos, ou passamos a ser mais exigentes no momento das condenações. É só para que conste e se saiba que o PS de Coimbra é dirigido por um cadastrado. Mas isso é comum e parece ser aceite com naturalidade em Coimbra: a Académica também o é.
Precisamente! estrutural e endémico.
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