23 fevereiro 2016

AQUELES HOMENS QUE SE TORNAM «MAIORES» QUE AS CAUSAS

A história dos Tigres de Libertação do Eelam Tamil (LTTE na sigla da organização em inglês) é uma daquelas histórias de uma organização política armada que, apesar da espectacularidade intrínseca à sua actuação, nunca interessou particularmente a Informação ocidental. Há guerras que têm fases em que aparecem quase todos os dias nas notícias e há outras que nunca aparecem, aconteça-lhes o que acontecer. A provocada e travada pelos Tigres foi uma destas últimas apesar de, por causa dela, ter havido um ex-primeiro-ministro indiano a ser vítima de um atentado que o matou (Rajiv Gandhi em 1991). Mas aquilo que acontece no subcontinente indiano nunca foi prioridade da comunicação social norte-americana e/ou europeia. Numa ilha remota daquelas paragens, que Luís de Camões designou por Taprobana e que actualmente é um país conhecido por Sri Lanka, apareceu uma organização secessionista que se bateu militarmente durante décadas pela formação de um estado tâmil no Norte e no Leste da ilha (vejam-se os contornos desse estado à direita na foto abaixo). A Guerra Civil que se veio a travar entre os Tigres e o exército regular do Sri Lanka terá causado entre 40 a 100 mil mortos até terminar em 2009. Para a vencerem, as forças armadas do Sri Lanka passaram gradualmente dos 8.800 efectivos com que contavam em 1970 para os 161.000 que possuem actualmente. Seguindo a tradição que herdara do colonialismo britânico, o Sri Lanka independente (1948) tornara-se um país que não precisava de muitos efectivos nas suas forças armadas... até precisar. This Divided Island é um livro de um jornalista indiano (tâmil) que foi publicado originalmente em 2014 para quem não se contente com o (pouco) que veio noticiado nos jornais a respeito do conflito. Cinco anos passados após o fim da guerra civil ele faz um balanço da mesma a partir dos depoimentos de quem a viveu, especialmente do lado tâmil (o autor não fala cingalês, a língua da maioria da população). Aparece-nos recomendado pela sua selecção para o Prémio Samuel Johnson de 2015, mas acabei o livro em esforço, apesar das suas 320 páginas não parecerem aparentemente um abuso de prolixidade. Fiquei porém com aquela sensação que o essencial da história podia ter sido contado em 200 a 250 páginas e com vantagem para as duas partes. E o essencial da história inclui a figura e a pessoa de Velupillai Prabhakaran (1954-2009), o líder dos Tigres. Como aconteceu com outras figuras carismáticas da guerrilha - estou a lembrar-me nomeadamente do caso de Jonas Savimbi e da UNITA em Angola - a pessoa, as suas idiossincrasias, o seu poder pessoal despótico, acabaram por abafar a causa que diziam promover. O fim da guerra confunde-se com a eliminação física do líder.

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