Neste próximo dia 26 de Fevereiro a Irlanda vai às urnas para eleger os 158 deputados (TD) do Dáil Éireann. O governo em funções desde as eleições anteriores de Fevereiro de 2011 é formado por uma coligação entre o Fine Gael, um agrupamento de centro-direita liderado por Enda Kenny que é o actual primeiro-ministro (Taoiseach), e o Partido Trabalhista irlandês. Como acontecia em Portugal em Outubro e em Espanha em Dezembro passados, há quem espere também aqui que a representação parlamentar do governo se mantenha maioritária embora com o natural atrito da perda de algum número de lugares no Dáil. A actual maioria governamental é confortável: 99 lugares (66+33). Se assim acontecer, será uma eleição histórica na Irlanda, porque Enda Kenny seria o primeiro líder do Fine Gael a ser reeleito como Taoiseach desde que o partido foi fundado há mais de oitenta anos (1933). Contudo, as sondagens indiciam que a oposição (composta pelo Fianna Fáil, um partido populista de centro, o Sinn Féin, que é um partido nacionalista de esquerda, ainda por um grande número de agrupamentos menores e ainda pelos TD independentes que ocupam actualmente 10% da câmara) poderá vir a registar grandes ganhos, e que essa histórica reeleição do Kenny, considerada a complexidade do sistema eleitoral irlandês, está muito longe de poder ser dada por segura.
Porém, estas eleições irlandesas podem muito bem vir a ser um acontecimento histórico, não apenas para o Fine Gael e a história eleitoral irlandesa, mas também ter um impacto ampliado em termos de política europeia. O país foi duramente atingido pela crise financeira de 2007 a 2009, e viu-se forçado a aceitar um programa de resgate no valor de 67,5 mil milhões de € da União Europeia, do Banco Central Europeu e do FMI – a famosa tróica... - para evitar o colapso do seu sistema bancário. Em resultado disso, em 2012 a economia irlandesa decaiu 14% e o desemprego subiu para mais de 15%, por causa de um programa que impunha a redução da despesa pública e o aumento de impostos. Mas, desde esse choque, a Irlanda parece ter-se recuperado de seus problemas económicos e melhor do que todos os outros países, tanto da União como da zona euro, tendo saído do seu programa de resgate em Dezembro de 2013 e tendo registado daí para cá crescimentos da sua economia cifrados em cerca de 4,8% em 2014 e 6,0% em 2015.
É um contraste significativo com os governos de centro-direita que perderam consecutivamente o poder na Grécia, em Portugal e em Espanha, como resultado de irritação pública com os duros programas de austeridade rematados por fracos desempenhos económicos nas fases prometidas para a recuperação. Agora, se o Fine Gael não conseguir vir a ganhar esta reeleição na Irlanda com uma economia que, para variar, está claramente em recuperação, o temor só pode aumentar para aqueles governos de outros países europeus da área da moeda única que em breve vão enfrentar, por sua vez, os seus testes eleitorais. As manifestações de desagrado nas urnas com a prioridade dada às questões financeiras, ao saneamento bancário e à austeridade por parte de Bruxelas serão um fenómeno que, por contágio, se pode alastrar Europa fora e aumentar as pressões sobre Bruxelas para finalmente mudar de rumo em termos de política económica. Antes que as coisas venham a repetir-se num daqueles países europeus que, numa União de países iguais e como dizia António Esteves Martins, são mais iguais do que os outros...
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