Eu bem sei que o âmbito de intervenção da NATO se tem ampliado substancialmente depois do fim da Guerra Fria mas convém ter presente, perante a notícia acima, que a Coreia do Norte fica do outro lado do Mundo. Sendo o secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, norueguês (abaixo, vemo-lo ainda esta manhã, quando de uma conferência de imprensa em Bruxelas), adiante-se que, quando são 17H00 em Oslo (16H00 de Lisboa), é já meia noite e meia (00H30) do dia seguinte em Pyongyang. Não se pode dizer que o míssil norte-coreano seja uma ameaça próxima, a merecer o destaque noticioso que suscitou. Se o Pacto de Varsóvia se extinguiu, estes episódios recordam-nos que da NATO original só terá ficado mesmo a designação (que menciona expressamente o Atlântico Norte). Perante declarações destas do seu secretário-geral a respeito de um país da orla do Pacífico é possível especular retrospectivamente se, com este âmbito de intervenção tão globalizado como o que agora vigora, os norte-americanos não teriam conseguido transformar a sua intervenção no Vietname num problema da NATO... Como país membro da Aliança, os portugueses terão consciência de que Jens Stoltenberg também fala em nosso nome? É que por cá, a Coreia do Norte continua a ser aquele sítio remoto (e também um pouco caricato) que Bernardino Soares não sabia se seria ou não uma democracia...
Embora do outro lado do Mundo (geograficamente e não só), a Coreia do Norte estará hoje “mais perto” de nós do que o reino de Preste João, no séc. XV. A diferença, para nós, é que, apesar do seu isolacionismo e “peculiaridades”, sabemos hoje bastante mais sobre aquela do que aquilo que imaginávamos saber há 600 anos sobre esse outro longínquo reino da Abissínia. Ademais, enquanto então procurávamos saciar a nossa curiosidade e explorar a possibilidade de ali encontrarmos um aliado, hoje passar-se-ia tudo ao contrário. "Last but not least", a iniciativa de então foi inteiramente nossa, e apresentada à “autoridade” da época, o Papa, como um serviço que nos prestávamos a fazer, enquanto agora parece ser a “autoridade” (qualquer que ela seja) a querer forçar-nos a envolvermo-nos e a servir-se dos nossos parcíssimos recursos.
ResponderEliminarA minha especulação tem uma ambição bem menor que essa: só a de demonstrar que, com as actuais funções da NATO e com a actual relação de forças dentro dela em favor dos Estados Unidos, é muito provável que na década de 1960, a NATO não teria apoiado Portugal no seu conflito colonial (com de facto aconteceu) mas a NATO e os seus membros (entre os quais Portugal) ter-se-iam que ter envolvido no conflito vietnamita - o que foi completamente descartado pelos governos britânico, francês, alemão ocidental, etc. da época.
ResponderEliminarEm 1960 os países europeus, onde Portugal sempre esteve incluído, tinham uma força (bélica e moral) completamente diferente. Hoje não têm nem uma nem outra.
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