13 janeiro 2014

WAGAH

Há um sítio no mundo onde as demonstrações de chauvinismo e de (uma cuidadosamente coreografada) hostilidade para com o país vizinho se tornaram no fulcro de uma próspera actividade turística. Trata-se de um posto da fronteira chamado Wagah (acima), situado na linha divisória que foi traçada em 1947 separando o Punjabe Oriental (de maioria sikh) do muito maior Punjabe Ocidental (de maioria muçulmana), e que a partir de então passou a constituir a secção panjabi da fronteira entre a Índia e o Paquistão.
O foco da atracção turística é a cerimónia quotidiana do arriar das bandeiras ao fim da tarde. Na verdade, como se poderá descobrir pelos vídeos mais abaixo, o espectáculo começa muito antes, com as assistências dos dois lados da fronteira, que se adivinham ali presentes eivadas de um enorme fervor nacionalista, a proclamarem desde o princípio as suas simpatias como se de um match desportivo se tratasse. Quanto à cerimónia propriamente dita e melhor do que qualquer descrição, será preferível assistir a ela nos dois vídeos abaixo:

Cada vídeo tem a particularidade de ter sido filmado do seu lado da fronteira e de socorrer-se da apresentação do seu comediante britânico: trata-se de Michael Palin (dos Monty Phyton) que o cobriu do lado paquistanês (identificável porque os soldados envergam um fardamento mais escuro), e de Sanjeev Bhaskar (de Goodness, Gracious Me) que o viu do lado indiano – embora seja paradoxalmente este último que faz a associação aos silly walks que se tornaram tão populares por causa da série que foi protagonizada pelo primeiro…

Na sua apresentação, Michael Palin chama a atenção para como a cuidadosa coreografia das manifestações de hostilidade para com o adversário só podem ser devidamente conseguidas, não apenas com a sua conivência passiva, mas também com a colaboração activa (e mesmo ensaiada) desse adversário. E tudo isso decorre sob uma chuva de incentivos incessantes de cada lado. As imagens de Wagah, mesmo sem todo o seu cerimonial, acabaram por se vir a tornar no símbolo das relações atribuladas entre a Índia e o Paquistão.
Apesar de sempre ter sido, e de continuar a ser, a expressão caricata de um assunto sério, já há 40 anos o desenhador belga Bob de Moor aproveitara a ideia para uma aventura de Barelli chamada O Buda Amuado, onde dois países imaginários daquela região chamados Crounchir e Yogadhor (veja-se o mapa abaixo) se disputavam pelo privilégio de uma actuação teatral de Barelli no seu dia da independência (que era o mesmo, como acontece com a Índia e o Paquistão), através de exércitos muito motivados mas, felizmente, muito mal equipados.

2 comentários:

  1. As imagens da fronteira indo-paquistanesa lembraram-me estoutro vídeo - http://www.youtube.com/watch?v=k-STkFCCrus (creio que já o publicou por estas bandas).

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  2. Não. Não o publiquei. Nem o conhecia. Obrigado por o ter revelado.

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