11 janeiro 2014

A OPÇÃO DO GENERAL VON FALKENHAYN

Quando durante a Primeira Guerra Mundial, mas já em finais de 1915, o general Erich von Falkenhayn (Chefe do Estado-Maior alemão), se decidiu a retomar a ofensiva numa Frente Ocidental que entretanto tinha estagnado em trincheiras, teve que escolher o local para a desencadear. E, de acordo com a sua concepção de que haveria de vencer os franceses pelo desgaste em homens e material, escolheu a cidade de Verdun. Verdun (veja-se o mapa abaixo) situava-se numa reentrância da Frente que a fazia estar praticamente cercada pelos exércitos alemães por três lados, tornando-se por causa disso, numa posição onde o reabastecimento (e, em consequência, a defesa) do lado francês era difícil.
Porém, por outro lado, Verdun era uma cidade-fortaleza situada sobre o rio Meuse na intersecção das vias naturais que ligavam o coração de França à Renânia, com uma história disputada que fizera com que ela só se viesse a tornar definitivamente francesa no Século XVII. Por causa disso (e não pela adopção dos mais saudáveis princípios tácticos que recomendariam a evacuação de uma posição demasiado exposta), Falkenhayn contava que os seus inimigos disputassem Verdun encarniçada e desvantajosamente. Assim foi: a Batalha de Verdun começou em Fevereiro de 1916 e quando terminou, em Dezembro seguinte, os alemães haviam sofrido 280.000 baixas e os franceses 440.000.
Os acontecimentos desencadeados (não apenas nos blogues e redes sociais mas também na comunicação social) na sequência da gaffe memorialística de José Sócrates sobre Eusébio fizeram-me lembrar este episódio da Primeira Guerra Mundial. Neles surpreendeu-me menos a agressividade daqueles que atacaram José Sócrates¹ (num meio que é conhecido por trucidar reputações a pretexto, muitas vezes, de razões pueris), do que o denodo daqueles que saíram em sua defesa nas formas e formatos mais diversos, numa atitude de louvar mas bizarra neste jogo em que se costumam desfazer reputações com uma facilidade que é facilitada pela ausência de quem apareça em defesa dos alvos.
Contrastes concretos: o tratamento quotidiano que de há muito tem vindo a ser dado a António José Seguro, entre figuras de esquerda; ou a forma como foi ridicularizado há uns anos o vídeo contra a liberalização do aborto de Marcelo Rebelo de Sousa, entre comentadores televisivos, antigos dirigentes partidários. Nos dois casos, ao contrário de Sócrates, não se dá (nem se deu) por quem os viesse salvar. Não sei se haverá um Falkenhayn que comande o exército de antipatias que José Sócrates desencadeia mas reconhece-se do outro lado uma vontade tão férrea de defender José Sócrates como a dos franceses de outrora em defender Verdun à outrance. O que só transforma Sócrates num alvo remunerador…
¹ Entre os quais me conto.

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