31 janeiro 2014

A ESPIA DO PRESIDENTE

Na Biografia de Jorge Sampaio de José Pedro Castanheira pode ler-se este interessante parágrafo (p. 512):

Com Otelo nunca tive relações. O cuidado em manter o maior número possível de contactos e pontes leva alguns membros do grupo¹ a visitar o general Otelo Saraiva de Carvalho, comandante do Comando Operacional do Continente (COPCON), no quartel do Alto do Duque. O encargo é atribuído a João Cravinho e à discreta Maria José Ritta. Ela chegou-me a casa a dizer que era o fim do mundo, que o Otelo estava convencido que controlava tudo – quando, na verdade, não controlava nada… Para Maria José, o choque não foi tanto pelo esquerdismo, até porque não tinha nenhum preconceito político contra o Otelo. O que me chocou foi a desorientação geral e o excesso de voluntarismo. «Isto assim não vai longe!», pensei.

Mais uma vez se parece comprovar o aforismo que estabelece que por detrás de um (não muito...) grande homem costuma estar uma grande mulher. A evolução dos acontecimentos veio confirmar a descrição: que aquilo que existia à volta de Otelo não passava de um enorme carnaval desorganizado, que tinha que ser levado em conta mas por causa da imprevisibilidade provocada pela desorganização.

¹ Grupo de dissidentes do MES (Movimento da Esquerda Socialista), conhecidos sucessivamente por ex-MES, depois por GIS (Grupo de Intervenção Socialista), finalmente por IS, antes de aderirem em bloco ao PS em Fevereiro de 1978.

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