Contrariamente ao que eventualmente se possa imaginar, os cidadãos romanos dos Séculos V e VI eram pessoas civicamente muito conscientes. O que nos pode parecer hoje bizarro é a expressão desse civismo, que se exprimia em posições muito firmes e convictas sobre as grandes controvérsias da Cristologia. A figura de Jesus Cristo, a existência (ou não…) de duas naturezas (humana e divina) na sua pessoa, foram (apresentados aqui de uma forma excessivamente simplificada) pretextos para controvérsias acérrimas, que todo o cidadão atento devia acompanhar (ou fingi-lo…) por causa das suas implicações políticas sérias. Um equivalente actual, tanto pelo exotismo como pela impenetrabilidade, serão as yields da nossa dívida pública.
Como acontecia com os teólogos de há 1500 anos, também no caso da formação e evolução das cotações das dívidas dos países soberanos, a compreensão do fenómeno estará reduzida a uns quantos eleitos, embora todo o cidadão se farte de mandar palpites (de preferência com ar grave e circunspecto), quando, na verdade, todos nos mostramos inseguros quanto aos alicerces daquilo que verdadeiramente sabemos sobre o assunto: quase nada. Tanto assim é que, ainda na Terça-Feira, os jornais destacaram cabeçalhos dedicados à quebra da fasquia dos 5% (acima) quebra que depois os gráficos da Blomberg (fonte primária para esse tipo de informações) não corroboraram (abaixo), mas a contradição nem sequer parece despertar celeuma…
A minha felicidade por fazer uma observação que não vai totalmente de acordo ao autor do blog.
ResponderEliminarEssa questão da cristologia, com repercussões dramáticas com o que veio a ser mais tarde uma guerra com os iconoclastas ocorreu acima de tudo no mundo helénico ou bizantino em zonas como a Capadócia ou Anatólia.
Portanto, são questões acima de tudo em que os seus herdeiros serão os gregos (helenos) ou os turcos.
É sem qualquer sombra de malícia que eu lhe digo que fico contente pela sua felicidade: é muito melhor assim do que escrever aquelas coisas insuportavelmente simpáticas que insiste em escrever sobre este blogue.
ResponderEliminarMas permita-me dizer em minha defesa que os romanos a que me refiro são esses mesmos que o João Moutinho denomina por "helénicos ou bizantinos".
Porém, reflectindo, apercebo-nos que aquele Império e as suas instituições são a continuidade do que existiu desde o tempo de Augusto e não há nenhuma razão objectiva para lhe mudar o nome (Ῥωμανία - Romania), que os próprios empregavam para se designar a si próprios, assim como o faziam todos os vizinhos a Oriente - árabes, persas ou turcos. Nunca ouviu falar, por exemplo, na expressão "rumi" para designar um cristão?
A quem incomodaria ideologicamente o uso (repito, perfeitamente justificado) do epíteto de romano seria aos europeus ocidentais, que tinham feito reaparecer depois de mais de 300 anos de interregno um novo Império "Romano" na Europa Ocidental a partir de 800 d.C. com Carlos Magno. Foi só depois disso, agravado com a rivalidade das Cruzadas na Idade Média, que começou a operação de propaganda no Ocidente de renomear o verdadeiro Império Romano.
Aliás, reflectindo mais um pouco, bizantino tem de ser um adjectivo de conteúdo depreciativo e artificial, pois a capital Constantinopla adoptara aquele nome em substituição de Bizâncio por volta de 330, ou seja mais de 750 anos antes da Primeira Cruzada...
Dar-lhe-ei toda a razão que nós não os conhecemos assim pela designação de romanos mas, por esta vez, somos nós, os europeus a Ocidente, que estamos totalmente enganados.