22 janeiro 2014

OS RECURSOS PLETÓRICOS DE UM EXÉRCITO

Vietname, Janeiro de 1969. O fotojornalista alemão Horst Faas mostra-nos um instantâneo de um exército norte-americano pletórico de recursos, onde um helicóptero pesado CH-54 se prepara para aerotransportar um obus M-114 de 155 mm de/para uma posição isolada algures na selva. Para os veteranos do exército português, que travando por aqueles mesmos anos uma guerra contra-subversiva de características semelhantes à do Vietname e a quem faltavam muitas vezes os meios helitransportados para evacuar os feridos (esqueça-se lá o material…), estas imagens devem chegar a parecer, retrospectivamente, obscenas. O que não impediu um mesmo desfecho em qualquer dos conflitos…

11 comentários:

  1. Compreendo o sentido principal do texto mas a nota final sobre o desfecho dos conflitos nao concordo.

    Nao concordo porque o contexto historico dos imperios envolvidos em cada um dos conflitos e diverso e consequentemente os objectivos estrategicos de cada um dos Imperios tambem diferentes.
    Ewscrevo so acerca dos americanos para nao tentar nao deixar um texto demasiado longo.

    Os EUA no Vietname tinham 2 objectivos fundamentais:

    1 - Impedir a criacao de um Estado nao alinhado com os interesses americanos e com capacidade de ser viavel economicamente, portanto com capacidade de influenciar a regiao e servir de "faisca" para outros governos nao alinhados.

    2 - Relacionado com o objectivo 1, e a real preocupacao Americana na regiao: impedir o "efeito contagio" para a muito mais significativa e rica em petroleo, Indonesia.

    Um objectivo secundario ligado ao nr 1 era que preferencialmente queriam tambem manter um governo alinhado no Vietname do Sul da mesma forma como tinham conseguido na Coreia.

    Ora os obectivos 1 2 foram alcancados, a guerra arrasou a estrutura economica e social do Vietname, tornando-o um Estado Inviavel economicamente por muitas decadas e portanto sem influencia regional significativa.
    A Indonesia no final do conflito estava confortavelmente nas maos de uma ditadura alinhada com os interesses americanos.
    Nao conseguiram o objectivo secundario e no final o Vietname acabou comunista, mas, muito importante, 10 mais tarde do que teria sido de outra forma e com o pais feito num caco, alias, os seus vizinhos tambem feitos num caco. No esquema geral isso foi uma derrota "lateral".
    O imperio americano foi firmemente assegurado e consolidado na regiao.

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  2. Em princípio um comentário assinado com um pseudónimo não mereceria qualquer resposta.

    Mas, por esta vez prefiro mantê-lo cá, para que o Lavoura não se sinta o monopolista das asneiras nas caixas de comentários deste blogue.

    Por um lado queria felicitá-lo pela convicção com que exprime a sua opinião. Infelizmente esse aspecto formal não consegue esconder a nebulosidade do que possa achar sobre o assunto.

    Faltam-lhe conhecimentos históricos e sobretudo conhecimentos teóricos sobre doutrina.

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  3. Tambem o quero felicitar pelo conteudo e qualidade dos textos.
    Esta a ser injusto comigo, resultado talvez de mas experiencias no passado. Uso este pseudonimo em todo o lado da net onde as vezes escrevo. Na Net nunca assino com o eu nome. O comentario nao tem qualquer tipo de intencao insultuosa, e uma genuina expressao de discordancia de uma frase final que creio ate ser relativamente lateral ao texto.
    O rotulo sumario de idiotia militante ao associar-me ao Lavoura e injusto.
    Por outro lado tambem nao merece grandes felicitacoes porque nao e ideia original minha, parafrasiei o Noam Chomsky. Os livros dele parecem-me convincentes. Aparentemente ele labora, pelo menos neste ponto, num grave erro.
    Nao sou da area, leio apenas algumas coisas aqui ou ali, coisa de "curioso", nao sou nem tenho pretensoes algumas de me fazer passar por alguma especie de especialista.
    Assim sendo, agradecia que me explicasse qualquer coisa sobre o assunto.

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  4. Se não estiver enganado, a área de especialização de Noam Chomsky é a linguística.

    Ora aí está uma área do saber sobre a qual não há nenhum poste neste blogue e tão pouco me sentiria com a capacidade de comentar postes alheios sobre linguística. É que já bastam as facetas controversas dos assuntos sobre os quais nos consideramos aptos a opinar, quanto mais expormo-nos por assuntos sobre os quais "sabemos apenas algumas coisas aqui ou ali".

    Por mim, quando ouço o ditado popular que diz que "a ignorância é muito atrevida", encaro-o como uma admoestação...

    Quanto ao seu pedido, compreenda que mantenho este blogue pelo seu sentido lúdico, não para dar aulas... Mas se estiver mesmo interessado sugiro-lhe que procure ler, para começar, "America in Vietnam: A Documentary History" (http://www.goodreads.com/book/show/734469.America_In_Vietnam) que o fará compreender como foi errática a evolução dos objectivos dos norte-americanos no Vietname ao longo de 21 anos (1954-75), ao invés dessa absurda sobressimplificação revisionista que escreveu.

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  5. Demorou um bocado mas la encontrei um transcript com os argumentos do Chomsky

    http://www.chomsky.info/interviews/20050131.htm

    E agora que a reli ate me dou conta ele se refere a todo o periodo da intervencao americana os tais 21 anos que refere e ate traca as origens ao pos-II guerra mundial.

    E verdade o ganha-pao do Chomsky foi a linguistica (acho que se reformou). Mas ja desde os final dos anos 60 que ele e um activista politico, um muito prolifico escritor, especialmente sobre politica externa americana e forma como a propaganda assume novas formas, um dos livros mais conhecidos dele e o "manufacturing consent".

    Quanto as suas explicacoes, obrigado pela referencia ao livro, tomei nota e comprarei na proxima oportunidade.
    Dispensava, muito sinceramente, era a brusquidao da resposta que me suscita 4 reparos:

    1 - eu nao pedi uma "aula" como refere, algo mais sintetico e leve chegaria.

    2 - muitos dos seus textos aqui, sao, pelo menos para mim, excelentes licoes sobre historia, especialmente contemporanea, tambem aprecio imenso os sobre Roma mesmo que eu goste mais da historia do periodo do final da Republica que propriamente do ocaso do Imperio Ocidental, tenho pena alias que nao tenha deixado de abordar o tema em tempos mais recentes.

    3 - a proposito do Roma Antiga, lembro-me de um texto que escreveu sobre os autores do blog Roma Antiga em que se queixa com magoa destes nao se dignarem a lhe responderem uma questao qualquer que nao recordo agora que fez de boa fe.

    4 - ou bem que o blog tem sentido apenas ludico em cujo caso, esta bem, pouco ou nada explica mas tambem no mesmo espirito ludico demonstrava um pouco mais de tolerancia para quem menos sabe mas comenta de boa fe, ou bem que isto e uma casa serissima em que so academicos comentam, em cujo caso ou fecha os comentarios a leigos ou entao admoesta a ignorancia explicando porque a quem se apresenta genuinamente interessado em aprender um pouco mais. E esta a pratica normal pelo menos, nos blogs sobre ciencia que sigo.

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  6. O segundo parágrafo da página que me sugeriu é composto por estas declarações de Chomsky:

    «- Well, I don't think that Vietnam was a mistake; I think it was a success. This is somewhere where I disagree with just about everyone, including the left, right, friends and so on.»

    Ou seja: é o próprio Chomsky a reconhecer que a sua opinião é muito minoritária; o meu interlocutor tem obrigação assim de saber que essa opinião é muito minoritária; e apresenta-se esse meu interlocutor aqui nesta caixa de comentários escrevendo que não concorda, argumentando com essa opinião muito minoritária.

    Está no direito dele.

    E eu exerço o meu de considerar os argumentos inconsistentes e de não o querer levar a sério. E de dar esta conversa por finda.

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  7. Sim, a opiniao e minoritaria. E depois?
    O homem tem-la defendido e argumentado em varias entrevistas, palestras e livros ao longo de pelo menos ja mais de uma decada. E um intelectual conhecido e respeitado que escreve livros com uma profusao de citacoes e bibliografia de suporte (incluindo tambem documentos oficiais de Estado) as opinioes que ele emite.

    Muito mais relevante e interessante e a sua consideracao de que os argumentos sao inconsistentes. Que eu gostaria de saber porque, mesmo que em tracos gerais. E uma pena que se recuse a ir mais alem do que indicar um livro.

    Chamar a esta troca uma "conversa" em que voce muito se esforcou por desconversar tem alguma piada - talvez seja o tal lado ludico do blog...
    Mas tem razao, mais vale dar por finda esta desconversa.

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  8. É engraçado como às vezes me esqueço que este blogue já tem oito anos e a sua quota-parte de episódios caricatos. As incursões ao passado do meu interlocutor fizeram-me lembrar uma das mais extensas utilizações de uma caixa de comentários a que este blogue assistiu, com o aparecimento dos comentários de um negacionista (cá está: uma outra opinião muito minoritária. «e depois?» - perguntar-se-ia o meu interlocutor…) contestando que as fotografias de (e tudo o resto relacionado com) Auschwitz que eu havia publicado num “poste” fossem genuínas.

    Claro que, no fim daquelas dezenas de “trocas de bola”, por muito absurdos que fossem os argumentos negando a política de extermínio dos judeus pelos alemães e por muito metódica que fosse a desmontagem deles, não apenas por mim mas também por outros leitores do blogue, tudo continuou na mesma, cada um na sua, que a “conversa” nunca foi para o ser. Retrospectivamente tenho que reconhecer que foi um erro: promover aquele diálogo acabou por conferir, no plano das ideias, respeitabilidade ao que não passa de uma falsidade histórica e, no plano pessoal, importância a alguém que, se não for daqueles tontos que gosta de teorias da conspiração, é intelectualmente desonesto.

    Esta história da opinião da “não derrota dos Estados Unidos na guerra do Vietname”, sendo menos ultrajantemente óbvia no seu despropósito do que o negacionismo, assemelha-se o suficiente para poder ser comparada. A começar pelo facto de o meu interlocutor saber decerto que a opinião de Noam Chomsky é muito minoritária; a mais elementar prudência mandaria que ele se acautelasse lendo outras. Que escolhesse acolhê-la por inteiro, sem contraditório, já me custa a compreender, mas que entre por esta caixa de comentários a brandi-la e depois manifeste estranheza por se ver rejeitado e desprezado, isso é que eu não compreendo mesmo.

    Sem pretender dedicar-me à sociologia de internet, há qualquer coisa de bizarro em alguns comportamentos neste meio. Qualquer pessoa medianamente civilizada saberá que querer “meter conversa” socialmente não se deve fazer começando a conversa com comentários do género: “Não gosto dos seus sapatos”; “Aqui entre nós, a minha gravata é mais bonita que a sua”; “Olhe, tenho aqui umas pastilhas para a halitose”. O que me continua a maravilhar ao fim deste oito anos é que ainda existam por aí “artistas” que estranham que os visados em comentários substantivamente semelhantes (“Olhe, o que escreveu está muito certo mas a minha opinião é que…”) os mandem bugiar. Devem acreditar que, por algum motivo obscuro, na internet as pessoas e as regras de educação serão outras…

    Finalmente e mesmo pondo de lado o “canhestrismo de maneiras”, percebo que possa haver muita solidão por aí que venha para aqui sublimá-lo, mas entenda-se que o facto de alguém dar atenção àquilo que aqui vou escrevendo não me obriga a retribuir o gesto, sobretudo se o que essa pessoa tiver para dizer for um disparate.

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  9. Pronto, esta bem. Tem razao.
    O meu primeiro comentario numa segunda leitura e muito desastrado e sim, pondo-me desse lado a ler a coisa, sem me conhecer de lado nenhum, aparece como mal-educado.
    Lerei o livro que que me recomendou.

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  10. A verdade é que o fim da guerra do Ultramar permitiu a Portugal uma melhoria substancial no seu nível de vida sob os mais variados aspectos e acima de tudo o fiam da morte daqueles jovens numa guerra longínqua.
    Ao contrário das antigas colónias que mergulharam em guerras muitos mais brutais.
    Então nós ficámos a ganhar e eles a perder.

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  11. Vale a pena acrescentar-se que nesses mesmos oito anos de blogue os episódios que presenciei em que alguém concede a razão a alguém foram tão poucos que se impõe o destaque e este elogio pelo gesto.

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