Este mapa que acima inseri (clicar para o ampliar) é um mapa interessantíssimo. Por um lado, pela estética dos desenhos que o enfeitam, uma prática hoje caída em desuso. Por outro, pelo seu valor histórico: o mapa foi publicado em Inglaterra nos inícios da Segunda Guerra Mundial, nalguma publicação de grande circulação numa data qualquer dos primórdios de Junho de 1940 (veja-se a legenda que termina com as posições a 1 de Junho), ainda o desfecho da Batalha de França não parecia ter sido decidido. E não é por acaso que os contornos escolhidos pelos desenhadores se vão inspirar naquela que fora a configuração da Frente Ocidental durante quase toda a Primeira Guerra Mundial (abaixo). Parecia antecipar-se uma repetição das frentes estáticas que haviam perdurado durante quase todos os quatro anos de duração do conflito de 1914-18. Mas sabe-se como o desfecho não veio a ser esse: com o desencadear da segunda fase da invasão (Fall Rot) a partir de 9 de Junho, o exército alemão defrontou-se frontalmente contra o exército francês e superou-o tacticamente. A França teve que se render a 22 de Junho em Rethondes.
Porém, apesar das parecenças e diferenças entre os dois grandes conflitos militares do Século XX, a derrota da França acabou por não se vir a revelar estrategicamente decisiva para o desfecho da Segunda Guerra Mundial, a qual veio a terminar, tal como já havia acontecido com a Primeira, também com a derrota alemã. As mesmas duas potências marítimas anglo-saxónicas (Reino Unido e Estados Unidos) contaram dessa vez com a aliança da Rússia (derrotada em 1917) em substituição da França, a derrotada de 1940. Haverá pormenores que nos parecem circunstancialmente fundamentais tendo em contas os precedentes históricos – como pareceria a presença da França na coligação anti-alemã aos desenhadores do mapa inicial – mas que não se vêm a revelar assim quando considerados depois numa perspectiva estratégica. São esses mesmos precedentes históricos que tendem a que muitos de nós, observadores, continuemos a considerar as questões da rivalidade entre potências pelo exercício da hegemonia sobre a Europa como exercícios de uma conflitualidade diplomática aberta e acesa a abeirar o recurso aos instrumentos militares em caso de fracasso.
Porém o recurso aos instrumentos militares neste momento é impossível. Estamos num período histórico em que a superioridade militar convencional dos Estados Unidos é de tal ordem que, só a sua capacidade de intimidação produz um efeito calmante em todas as outras potências. O que não quer dizer que as rivalidades, nomeadamente à escala europeia que temos vindo a referir aqui, não subsistam e até se possam vir a agravar – e um dos casos mais visíveis e recentes é o embate germano-russo pela hegemonia sobre a Ucrânia. Mas, a haver uma repetição da História - que a Alemanha, apesar de derrotada por duas vezes, não desistiu de se impor sobre o continente - ela só se repetirá nos aspectos substantivos, não nos acessórios nem naqueles que não sendo essenciais, temos a ilusão que o são. Hoje, por exemplo, seria inaceitável assistir-se à cena de um soldado alemão a hastear a sua bandeira em Bruxelas, como acontece na fotografia acima, tirada a 17 de Maio de 1940. A Alemanha moderna prefere diluir a sua bandeira no meio das outras na fachada do Berlaymont, o edifício onde está sedeada a Comissão Europeia naquela mesma cidade.
Contudo, apesar das diferenças na coreografia e na cenografia, suponho que não haverá muitos que defendam que a influência da Alemanha na Europa será hoje muito inferior à que existia nos tempos do apogeu de Adolf Hitler.
Um bem pensado e oportuno post.
ResponderEliminarLS