19 abril 2010

AS VIÚVAS DE HUMBERTO DELGADO

Há momentos em que se impõe escrever aquilo que apenas o decoro impediu que já se devesse ter esclarecido. Durante os últimos 36 anos a filha de Humberto Delgado, Iva, tem sido conhecida como a incansável promotora de eventos que preservem a memória do pai, actividade que merecerá o nosso maior respeito. Durante esses mesmos 36 anos, também tem havido uma espécie de pacto tácito que faz com que alguns aspectos mais controversos da vida do General assassinado pela PIDE sejam cuidadosamente referidos para a sua reputação não seja afectada.
Um desses aspectos controversos é o de como classificar o papel de Arajaryr Moreira de Campos, a brasileira que foi assassinada conjuntamente com Humberto Delgado em Villanueva del Fresno em Fevereiro de 1965, para a qual se convencionou o estatuto de secretária… O que a biografia de Humberto Delgado diz é que ele partiu para o exílio no Brasil em 1959. Em contrapartida, não há qualquer referência ao facto da família se lhe ter juntado… Nada prova, mas também nada desmente, a hipótese de Delgado ter então refeito a vida, para usar uma expressão da época…
É o decoro que faz com que já não valhe a pena aprofundar essa questão, mas seria esse mesmo decoro, conjugado com a sensibilidade para a saturação alheia, que teria feito reconhecer como dispensável a enésima entrevista à viúva de Humberto Delgado, hoje com 102 anos, onde ela aparece a responder às perguntas auxiliada pela sua incontornável filha Iva… O título da entrevista é O meu marido dançava muito bem porque, na verdade, nenhuma delas lá estava, nem sequer por perto, nalguns dos momentos mais importantes da vida do General Delgado…

25 comentários:

  1. Enquanto Humberto Delgado esteve exilado no Brasil, nenhum familiar esteve com ele, realmente.

    O que há de mais estranho na relação dele com Arajarir é que a tenha contratado como secretária por anúncio em jornal local, embora seja menos estranho para quem conhece as características de Delgado - as mesmas que o levaram a cair na cilada da PIDE.

    Que a relação deles tenha assumido os aspectos que o António Teixeira sugere, é uma questão que outros já invocaram expressamente, não por provas mas por dedução, nomeadamente devido ao facto de ela deixar o marido para se dedicar incondicionalmente ao General, e ao facto dela executar tratamentos de enfermagem que ele carecia.

    A própria Iva, uma das duas filhas, admite isso sem constrangimento. Só que esse pormenor pessoal não tem qualquer interesse para o papel do General na vida pública entre 1958 e 1965 e daí, creio eu, nunca merecer relevo nos trabalhos biográficos sobre H. Delgado. E de Arajarir ter sido vítima do mesmo crime ordenado pessoalmente por Salazar.

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    1. Sabe que o General Humberto Delgado tnha uma irma, chamada Deolinda Delgado, que trabalhou em minha casa, como governante, em Luanda ?
      Tenho uma foto dela que posso enviar.

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  2. Muito provavelmente, o António Marques Pinto terá lido muito mais do que eu acerca da vida de Humberto Delgado. Em termos históricos, trata-se de alguém que tem para mim um interesse muito residual, salvo o facto de ter sido o protagonista da constatação final que o Estado Novo com Salazar nunca se disporia a perder legalmente (por via eleitoral) o poder.

    Quanto ao resto, a partir do seu exílio em 1959, nem a vida sentimental do General foi importante, nem a actividade do próprio General foi importante para aquilo que o António Marques Pinto designa por “a vida pública”. A sociedade portuguesa continuou a sua vida, o poder político manteve-se apesar do “Golpe” de Botelho Moniz em 1961 e do começo das Guerras e a pessoa de Humberto Delgado nunca foi uma ameaça, daí o seu assassinato ter sido um crime desnecessário.

    Mas as omissões quanto à sua vida sentimental que aqui evoquei foram apenas um exemplo de toda a falta de rigor com que a Humberto Delgado costuma ser tratado nas evocações:
    a) “esquecem” a falta de reconhecimento das suas competências militares pelos seus pares que o consideravam “maluco”;
    b) “esquecem” o seu autoritarismo - há uma entrevista de 1958 em que se o ouve afirmar que “o povo português não estava preparado para a democracia”…
    c) “esquece-se” o seu feitio irascível que o levou a incompatibilizar-se com quase toda a comunidade de exilados políticos, etc.

    Quase dá para acreditar que, para a preservação da sua boa imagem histórica o melhor que lhe aconteceu foi ter perdido as eleições…

    O que creio que teve muito interesse, não histórico, mas político, e para efeitos de propaganda, foi a história do seu assassinato. Nela se apanha em flagrante a PIDE num duplo assassinato a sangue-frio e Salazar em vários discursos hipócritas alegando desconhecer aquilo que depois se descobriu saber perfeitamente.

    Será um episódio criminoso a nunca esquecer mas, ponderado o seu efeito pedagógico na actualidade, e ao contrário de outros crimes políticos equivalentes, já não vejo muitas opiniões escritas por ai considerando-o como “o fracasso de um «modelo» que representou o afastamento dos ideais do fascismo”… A lição, ao contrário de outras, parece aprendida.

    Em suma, meu caro António Marques Pinto, pelo exagero e pela saturação, nesta “saga Humberto Delgado” o ridículo aparece por todo o lado e não apenas na questão do “secretariado” de Arajaryr.

    Tome-se a primeira fotografia do meu poste, aquela que celebra a multidão que foi esperar Humberto Delgado à Estação de Santa Apolónia em Maio de 1958. Porque não juntar-lhe outra placa, comemorativa da multidão que terá ido esperar Mário Soares à mesma estação em Abril de 1974? E sobretudo, uma terceira placa, da maior multidão de todas, a que em Março de 1969 se reuniu naquela mesma estação para acolher Simone de Oliveira, em demonstração de desagravo pela injusta classificação da “Desfolhada” no Eurofestival?...

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    1. Como disse o terrorista Mortagua aproposito do assasinato do comissario Nascimento Costa foi um equivoco o do maluco Delgado também foi um equivoco...

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  3. Tenho três referências em relação pessoais em relação a Humberto Delgado.
    A primeira no Largo Gil Vicente em Almada onde vi da varanda da minha cas um comício, com praça cheia, durante as eleições era eu um menino de oito anos.
    A segunda foi quando encontrei fotografias do espólio do meu pai quando na base da USNavy em Jaksonville na Florida, o general, como adido militar, foi visitar os portugueses da recentemente formada FAP ( do qual o meu pai fazia parte) foram fazer formação dos PV2 (aviões de combate de luta anti-submarina).
    A terceira foi quando há dois anos visitei o monumento(?) em sua honra em Vila Nueva del Fresno, inaugurado com pompa e circunstância pelos mais altos dignatários portugueses e fiquei espantado com o estado de dradação que atingiu. Não sei se assim continua mas a figura de Humberto Delgado, pela sua importância na recente história de Portugal, não merece tal desprezo.

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  4. O meu conhecimento da história de Humberto Delgado tem uma razão simples: escrevi um guião para cinema sobre a história de Delgado, das eleições de 58 ao assassínio em 65, o que me obrigou a ler imensos documentos, falar com testemunhas, incluindo Iva Delgado, e visitar e fotografar locais relacionados, quer em Portugal quer em Espanha.

    Se digo isto é apenas para justificar que encontre alguns pontos de discordância, porventura pouco relevantes, com algumas afirmações suas, de que relevo, no entanto, «a partir do seu exílio em 1959,(...) nem a actividade do próprio General foi importante (...). A sociedade portuguesa continuou a sua vida, o poder político manteve-se (...) e a pessoa de Humberto Delgado nunca foi uma ameaça, daí o seu assassinato ter sido um crime desnecessário».

    No exílio, Delgado continuava a conspirar com grupos locais e internacionais - que se hostilizavam entre si, é verdade - e essa actividade era vista como uma ameaça para Salazar tendo em conta a capacidade de mobilização popular que a sua imagem de «heroi popular» - fruto das circunstâncias como Spínola - alimentava. A foto que o António Teixeira publica aqui de HD com Arajarir Campos, representativa do exotismo "revolucionário" do General, foi tirada com ele em Lisboa numa incursão clandestina durante o exílio, foto que apenas foi publicada no estrangeiro. O caso Delgado ainda fervilhou muito depois da sua morte - que disso não houvesse notícias nem resultasse a queda do regime, é um facto.

    Enfim, uma personagem fascinante até polo seu estilo aventureiro, que mesmo depopis de morto e depois da revolução de 74 ainda incomodava o Instituto Português de Cinema, presidido por Zita Seabra, que recusou "liminarmente" a candidatura à produção do filme.

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  5. Acredito que o António Marques Pinto tenha visto na saga de Humberto Delgado depois de 1958 um potencial tremendo para um filme de aventuras.

    Mas importância histórica é uma outra coisa e convém que não confundamos isso com a riqueza dos enredos.

    É lembrar, por exemplo, que Robin dos Bosques será a personagem mais fascinante e mais conhecida da Inglaterra medieval, mas concluir que na história a sério quem ganhou no fim foi o "malvado" do Príncipe João...

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  6. nos bem informados arquivos da DGS ela vem classificada como a "amante brasileira".

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  7. A sra.Arajaryr Campos é minha tia,gostaria de ver mais fotos dela.

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  8. O meu caro amigo Ant.Teixeira comete no seu texto erros de análise Histórica que creio serem importantes analisar: (analisarei em dois comentários por questões de espaço)
    1 – O Gen. Humberto delgado será tudo o que quiser, menos residual. Ele constituiu pela primeira vez a demonstração cabal que o apoio ao Estado Novo resultava essencialmente do recurso à censura, (muito mais do que à polícia política ao contrário do que muita gente pensa), que permitiu a criação de uma determinada imagem que só teve um opositor à altura em 1958
    2 – A atividade do general foi muito, mas mesmo muito importante. Sabe, nas suas memórias o Prof. Marcelo Caetano revelou que numa conversa com Salazar algures nos anos 50, lhe disse que apesar de todas as características pessoais e de estadista que lhe reconhecia, momentos houve que a sua permanência no poder se ficou a dever a fatores aleatórios, que o prof. designou por “sorte”. Realmente assim foi. Decisões exógenas garantiram, em diferentes momentos do seu consulado, que ele permanecesse no poder. Uma dessas situações, para lhe dar uma ideia de como era importante a ação do general, o líder histórico da Argélia Amedh Bem Bella, teria um plano que englobava os exilados portugueses e espanhóis, para uma intervenção armada na Península ibérica, basta ver a entrevista dada pelo próprio à RTP nos anos 90, em que dizia que tinha pensado ir muito muito longe. Já vê que está a confundir a ação do general com a divulgação dessa ação em Portugal, o que são coisas diferentes, o que se prende com o que escrevi no ponto 1
    3 - O assassinato não foi um crime desnecessário, documentos da Seguridad, (polícia política espanhola), provam-no. Chegaram a chamar-lhe “perigoso intrometido” e que seria alguém que teria de “ser posto fora de ação”. A sua atividade era muito mais abrangente do que a organização militar que o informador de Roma lhe propunha, e que se revelou uma cilada. Aliás para assassínio desnecessário ele saiu caríssimo. Só para pagar o informador Carvalho em Roma foram despendidos aproximadamente 1600 contos o que em 1964 era mesmo muito dinheiro. Aliás esta verba necessitaria de aprovação superior, havendo alguns colegas meus (historiadores), pensam ser um dos fatores que provam que o conhecimento da operação teria de ser conhecida fora da polícia. Eu pessoalmente, acho que é muito forçado isso. O orçamento da PIDE era, foi sempre, muito largo, e o tipo de operações requeriam uma confiança cega dos responsáveis políticos, sobretudo a partira de 1962 com o aumento das responsabilidades nas colónias. Para ter uma ideia em 1974 o orçamento estimado, que aliás nunca chegava, ultrapassava os 40.000 contos, na totalidade, (África incluída e que era o maior sorvedor de despesa).

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  9. 4 – Na minha opinião o seu maior erro é considerar que o general era incapaz militarmente. Do ponto vista estritamente histórico, isso é impossível de ser provado. O general tinha uma reputação que extravasava e muito, o âmbito nacional. Desde logo a condecoração inglesa pelo trabalho nos Açores, depois a sua passagem pela NATO (Washington e Toronto), depois o curriculim do general que era de longe o melhor das forças armadas o que explica ter isso do mais novo militar de sempre, a ser promovido ao posto de general. Podia ainda relatar outras coisas, como a fundação da TAP, a linha imperial, e os comentários militares na EN das operações da II guerra mundial. Claro que tinha inimigos, mas isso em Portugal e particularmente nas forças armadas, era mais que natural. Aliás numa coisa o senhor Teixeira tem razão, o feitio irascível do general não facilitava as amizades. Era frontal e direto, o que por exemplo assustava Salazar, que comentou com várias pessoas que lhe fazia impressão a forma como o general batia os tacões quando na sua presença.
    5 –Um parágrafo seu, (3º a contar do fim na resposta a um comentário), não percebo. Refere que o assassinato seria um ato criminoso a recordar. A recordar será sempre, alguém que deu a vida por uma causa é algo que devemos respeitar, mesmo que não concordamos com as suas ideias, ou a sua causa. Mesmo referindo o assassinato propriamente dito, perpetrado na estrava que liga Olivença a Badajoz, num local chamado Los Almerines, que ainda hoje pode ser visitado, dar-lhe-ei coordenadas se quiser lá ir, e não em Villa Nueva em cujas cercanias foram “enterrados” os corpos, e onde existe um memorial, num caminho conhecido pelos malos passos, e já agora informo-o que esse caminho liga com Portugal cuja fronteira é muito perto, mal sabia o Casimiro, o Lopes Ramos, o Tienza ou o Rosa Casaco que estavam a escassos quilómetros da fronteira
    6 – Quanto ao caso Arajaryr. Sinceramente devo-lhe dizer que, do ponto de vista histórico, a relação, ou suposta relação, existente entre ambos é, essa sim, absolutamente irrelevante. Trata-se de um assunto íntimo, que não me parece de muito interesse referir, o que justifica as poucas referências ao assunto que refere. Entretanto existem coisas que convém esclarecer por serem comprovadamente verdades. Arajaryr era já divorciada quando foi trabalhar com o general, e Portugal devia de facto ficar agradecido a uma mulher que lutou por uma causa que nada tinha a ver consigo, sendo cidadã brasileira, causa esse que abraçou, que a levou a abandonar o seu país, e a correr riscos elevadíssimos, até que foi assassinada longe da sua pátria. Aliás o facto de se ter matado uma cidadã brasileira assim, como se de um animal se tratasse revela bem a importância extrema que o general tinha, e não um assassinato qualquer. Se as razões de Arajaryr foram motivadas por uma relação próxima com o general isso não muda o essencial, ela abraçou uma causa, e essa causa incluía uma visão do futuro de Portugal, devemos estar agradecidos por isso, creio eu.

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  10. O António Carlos desculpar-me-á mas não faço tenção de responder proporcionadamente ao seu extenso comentário, quiçá uma injustiça para alguém que me parece julgar-se tão merecedor quando começa por me apontar “erros de análise Histórica”.

    E dou-lhe apenas dois exemplos para o não fazer:
    a) Porque me é penoso estar a rebater alguém que argumenta aceitando como sério um “plano” para uma “intervenção armada argelina na Península ibérica” (o seu Ponto 2).
    b) Porque acabo por constatar que lhe escapou o essencial daquilo que quis transmitir no meu poste original – se considera irrelevante a relação entre Delgado e Arajaryr, por maioria de razão deveria ter concordado com a minha conclusão final, a de que a relação entre Delgado e a mulher e a filha seriam irrelevantíssimas (o seu Ponto 6).

    Quanto ao parágrafo que afirma não perceber (Ponto 5) trata-se de uma ironia. Utilizei as habituais fórmulas desculpabilizantes dos comunistas para crimes políticos deste mesmo género, só que, dados os autores serem neste casos fascistas, empreguei o termo fascismo em substituição de comunismo – e ficou: “o fracasso de um «modelo» que representou o afastamento dos ideais do fascismo”. Cacofónico, não é?

    Em suma, e um pouco em simetria aos “erros de análise Histórica” que me aponta e como diria Wolfgang Pauli, eu nem sei se o António Carlos chega a estar errado… Uma coisa, porém, é certa: não sou seu amigo - guardo essa designação para um outro tipo de relações pessoais.

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  11. O meu caro amigo, (desculpe insistir no tom cortês é apenas uma questão de respeito e educação), terá de ser mais paciente e muito mais tolerante se quiser realizar uma análise histórica, sociológica, ou qualquer outra, de forma séria.
    Vamos por partes:
    1 – O plano de Ahmed Bem Bella existia, referi uma entrevista com o próprio à RTP nos anos 90, (eu tenho a cassete da entrevista nos meus arquivos, mas esqueci-me de postar a data da gravação). Mas digo-lhe mais. Sabe quem estava a concorrer com os portugueses para que esse material bélico que devia ser entregue a um comando unificado português-espanhol, (aliás muito à semelhança do caso Santa Maria), era um senhor que se chamou Amílcar Cabral. Estão ao seu dispor vários documentos nos arquivos da PIDE que denotam essa preocupação através de uma parafernália de informadores que existiam em Argel. O Engº Amílcar Cabral percebeu cedo, muito cedo, que sem a supremacia aérea, nomeadamente restringindo o uso de helicópteros, a guerra estaria resolvida ainda nos anos 60. Ben Bella era um dos seus grandes apoios, a par de Nhekruma e Sekhou Touré. Todos foram alvo de tentativas de assassinatos, e no caso de Nhekruma com sucesso. A participação da PIDE nessas tentativas está hoje testemunhada, não é uma questão de opinião. O que lhe parece a si uma ação espetacular e fora de possibilidade de êxito não o era de facto. Os governos ibéricos tinham muito poucos apoios na Europa, acredite que ninguém iria colocar-se ao lado de Franco e Salazar, sobretudo se a rebelião viesse sob o comando de um homem com o prestígio NATO do Delgado, (tal como não o fizeram em abril de 74, quando o general Spínola lhes dava garantias de que os Portugal, leia-se os Açores, não abandonaria a NATO). Se me dizer que era esse prestígio que Ben Bella e o PCP através do seu representante em Argel, Piteira Santos, queriam, para depois tentar impor o regime comunista, bom isso eu já não tenho provas, mas o raciocínio faz sentido à luz das teses e práticas comunistas de então. Ao ver as dificuldades de Delgado em se impor como único comandante da operação, Cabral terá tentado utilizar na Guiné, onde a guerra estava no início, (1964/65), esses meios para ganhar enorme vantagem militar. O golpe de 66 na Argélia deitou por terra essas espectativas. Outra coisa que não devemos subestimar era a capacidade da oposição espanhola, muitíssimo mais bem relacionada e organizada do que a portuguesa, só que o general dava-se mal com a repartição de comando e queria ser ele a estar no topo da operação.
    2 – Quanto à relevância das relações pessoais de Delgado afirmo o mesmo que já disse: do ponto de vista histórico, são naturalmente irrelevantes. No entanto queria acrescentar o seguinte. Ainda no Brasil o general recebeu a visita da mulher, e ficou registado o facto de ele subir a bordo do navio que a transportava ainda antes do início do desembarque de passageiros. Com mais tempo poderei tentar buscar datas em que a visita sucedeu. Posteriormente quando entrou clandestinamente em Portugal, (preparando o golpe de Beja) ligou para casa e falou com os seus familiares, para a rua Filipe Folque onde residiam. Se a sua ideia, nunca expressa, é de provar que moralmente o Delgado teve uma conduta desprezível, eu creio que para a ação política do general isso é, de facto, irrelevante. Claro que se o que pretende é apenas demonstrar que a irrelevância existe quer no caso de uma suposta relação com Arajaryr, quer com a sua mulher e filha,, eu pergunto-lhe: O que quer demonstrar exatamente com esta espécie de análise histórica à paperrazi? Onde quer chegar exatamente?

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  12. 3 – Acredite que tudo o que lhe indiquei como factos históricos são hoje parte integrante de uma série de teses de mestrados e doutoramentos que estão publicadas. Os arquivos estão abertos. Só com intenções não declaradas se pode escamotear a verdade, como por exemplo sucedeu com o Rosa Casaco que disse na entrevista ao Expresso que a Arajaryr era uma prostituta no Rio. Ora isto é uma coisa que não tem fundamento nenhum, e percebe-se bem qual o objetivo de desculpabilização que se pretendeu atingir. O problema do Casaco não era admitir um crime, aliás prescrito já à época, era admitir uma enormidade de erros na execução do mesmo. Crimes e tentativas de crimes não lhe faltavam no curriculum, a começar na tentativa de assassinar O engº Tito de Morais em Sevilha numa ação muito parecida com a que veio a vitimar o Delgado. O crime só não aconteceu devido a um acidente violento de carro perto da cidade espanhola de Zafra que o deixou a coxear para o resto da vida, (facto utilizado como argumento para justificar a incapacidade de deter o Casimiro quando este puxou da pistola, o que é mentira, porque o Casimiro não puxou de pistola nenhuma, nem tão pouco o general morreu a tiro), e inutilizou um “famoso” agente da PIDE o José Gonçalves, conhecido nos meios oposicionistas como o chefe da brigada de assassinos, que matou o escultor Dias Coelho, e o Alex. Como vê foram verdadeiros especialistas os escolhidos para perpetrar o tal assassino desnecessário.
    4 – Continuo a não perceber qual a ironia do seu parágrafo no contexto do assunto em discussão. O General Delgado nunca foi comunista, o PCP é que percebeu, ao contrário do meu prezado amigo, que o General era a única figura que tinha uma força que lhe vinha não de uma teoria política como o comunismo ou qualquer outra, mas do facto de ter percorrido o país de norte a sul, e ter ganho uma imagem de coragem que lhe sobreviveu muito após a sua morte. Ao PCP, como sobejamente sucedia, convinha que Delgado aparecesse numa primeira fase de derrube do regime, para posteriormente o afastar, mesmo que seja a tiro, do poder.
    5 – O meu amigo, lá estou eu outra vez a querer ser simpático, não deve reagir tão mal aos comentários que lhe são feitos. Qualquer historiador comete erros históricos, isso não pode ser considerado ofensivo, mesmo o sarcasmo que utiliza em relação a mim parece desproporcionado. Gostava que se dignasse explicar exatamente o que pretende provar com as relações pessoais de Delgado, creio que poderemos aprender muito um com o outro, porque este tema do Delgado extravasa em muito a questão portuguesa, pelas ligações do general, ele insere-se num contexto mais vasto e por isso é inesgotável.
    Abraço apertado.
    AC.

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  13. Parece que tenho que o ensinar que, quando se está em casa alheia (é o que se passa aqui, é o meu blogue e a minha caixa de comentários), não se devem impor padrões de educação ao anfitrião: ou se aceitam os dele ou então sai-se de “mansinho”. Repetindo-me: eu não sou seu amigo e não me interessa nada rebater as suas opiniões que estão todas ideologicamente formatadas além de que muitas estão cientificamente erradas – sei lá, se vai mencionar a despropósito o nome de Nkrumah, podia ao menos sabê-lo escrever correctamente… Mas não, esta sua nova “remessa” mantém o mesmo “padrão” da anterior e em conjunto são mais de 12.000 caracteres de comentários disparatados seus a pretexto de um poste meu que não chega a ter 1.700... Foi muito boa vontade minha, mas agora chega.

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  14. O senhor teixeira é de facto mal criado e chega mesmo a ser infantil.
    O senhor não sabe confrontar ideias, não sabe discutir pontos de vista diferentes, não sabe manter a elevação numa discussão que para efeitos práticos, é uma questão académica. Terá porventuta um desejo insaciável de denegrir Delgado com uma telenovela sobre as supostas relações extraconjugais dele?Patético! Enganei-me quanto à qualidade/interesse do seu blog.
    Peço desculpa por, inadvertidamente, per escrito o nome do líder do Gana de forma errada.
    MAis uma vez boa tarde meu amigo (sabe há coisas que estão enraizadas na minha educação ...)

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  15. Reparei agora que no comentário anterior não refutei a única coisa que escreveu com alguma base de teoria. O meu prezado amigo escreveu e passo a citar com a sua licença “sei lá, se vai mencionar a despropósito o nome de Nkrumah (...)” num site de uma organização não governamental, para citar apenas um entre um milhão de hipóteses, Ligali Human rights , natural justice surge uma imagem com 5 líderes africanos num texto que tem o título “An honorable life”, e esses líderes que são considerados por esta organização, (que de certeza de estar com as suas ideias formatadas como as minhas), como aqueles cuja existência foi pautada pela defesa dos valores da humanidade, são: Thomas Sankara, Martin Luther King, Amilcar Cabral, Kwame Nkrumah, Malcolm X. Como será possível misturar homens que nunca se viram como Luther King e Amílcar? E misturar Nkrumah e Amílcar? Bem estes conheceram-se, e planearam uma África nova, não a que existe, mas uma que respeitasse a divisão africana de povos, o que obrigaria á união sobre a mesma independência países que entretanto tinham atingido a suposta independência. Bem mas eu já formatei hoje demais.
    Atentamente

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  16. É muito positivo vê-lo humilde, a reconhecer um erro que cometeu, nem que seja o de ignorar como se escreve correctamente Nkrumah.

    Fiquemo-nos então apenas pelas asneiras que escreveu respeitantes a assuntos relacionados:

    a) enganou-se a escrever o nome de Ahmed Ben Bella;
    b) enganou-se no ano do golpe de Estado na Argélia que o depôs: foi em Junho de 1965 e não em 1966;
    c) enganou-se a escrever o nome de Sékou Touré;
    d) quanto a Nkrumah, além de não saber escrever o nome dele, dá-o por assassinado, quando ele morreu numa cama de hospital em Bucareste, com um cancro em 1972

    Teve que ser preciso mesmo humilhá-lo assim para o calar, António Carlos? Ou ainda é mais estúpido do que aquilo que eu penso?

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  17. trate-se homem. Afinal o que queria era ser o ditadorzinho do blog. Queria ouvir-se e teve azar, factos e documentos provam o contrário, afinal eu nem sei o que queria mesmo discutir, o que sabe de facto do assunto. Afinal quer apenas mostrar-se imaturo. meu bom amigo cresça que é tempo, e desculpe lá eu quando escrevo estou discontraído, não ando a consultar nomes africanos para trás e para a frente, estou em paz e disposto a dicutir assuntos não estou em guerra comigo e com o mundo.

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  18. Sabem me dizer se ele tinha algum parente chamado Antonio dos Santos Delgado que fugiu para o Brasil também?

    No aguardo,

    Rafael B. Ramos
    rbramos@gmail.com

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  19. no tempo do SALAZAR e do general HUMBERTO DELGADO, os homens eram machistas além da conta. O Doutor professor Salazar, solteirão invicto, um pouco antes de morrer casou-se e, o general um homem romântico, teve na pessoa da senhora Arajarir o complemento que nunca teve ao que parece, com sua digníssima "patroa" portuguesa. Nos dias de hoje talvez fosse melhor compreendido. Naquela época preconceituosa, as pessoas "vejetavam" escondendo seus sentimentos. Mas não deixa de ser interessante a corajosa participação desse General com G maiúscula, que em outras décadas tentou mudar com seu projeto revolucionário, o rumo da politica na "santa" terrinha, avessa a mudança como demonstra até os dias de hoje, a relutância de: deixar como está, para ver como fica.

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  20. E assim fica explanada uma boa síntese do que eram os usos e costumes nos tempos de Salazar e Delgado, descontando os erros de gramática (como o verbo «vejetar») e as ficções históricas (caso do casamento tardio de Salazar; não está a fazer confusão com Hitler?...). É uma pena que o opinador não tenha deixado a sua identidade para lhe agradecer este contributo.

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  21. ~Sobre a nota acima, devo dizer : Que não fiz confusão nenhuma com o ditador Hitler. O casamento do Doutor Salazar, foi noticiado pelos órgãos da imprensa internacional. A sua" cuidadora", Maria de Jesus, tornou-se sua esposa legitimamente. Com referencia aos erros de gramatica, na verdade o que houve, na palavra acima citada, foi erro de digitação. Desculpe. Mas, embora não seja uma catedrática no idioma português, acredito que em nossos dias, com tanta gente falando errado, deturpando ostensivamente a gramatica portuguesa, começando por alguns políticos, um erro de digitação, deveria ser relevado.

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  22. Que "órgãos da imprensas internacional" é que noticiaram o casamento? Enumere então dois ou três. E quando é que o casamento teve lugar? Sabe a data? Desculpar-me-á, mas está a utilizar a internet, não se trata de uma daquelas conversas à antiga, numa mesa de café entre amigos, em que se prega uma patranha que se ouvira ao primo da tia de alguém que havia presenciado a cena... A vida de Salazar, por acaso, até está profunda e profusamente biografada (leia o livro: https://www.wook.pt/livro/salazar-filipe-ribeiro-de-meneses/9592985)

    Reparei que, certamente por outro "erro de digitação" tornou a não deixar a sua identidade.

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  23. Aliás, adoro estas explicações que transformam erros de ortografia em "erros de digitação". Até dão para explicar porque é que «higiene» pode aparecer escrito «ijiene»:

    a) Por um lado, para estas explicações, a tecla H está sempre perra, e nunca aparece escrita quando lhe carregamos

    b) Por outro lado, dá-se sempre a coincidência de quando a letra G soa como J (como aconteceu neste caso do veJetar) carrega-se sempre numa pela outra apesar de nem serem teclas contíguas. Podia-se carregar na tecla vizinha F (ifiene ou vefetar) ou na tal tecla H perra do lado direito (ihiene ou vehetar). Mas não...

    c) Os "erros de digitação" (como outrora os de ortografia) têm cá uma tendência para caírem nas armadilhas da homofonia!

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