17 maio 2019

UMA QUESTÃO DE UM URSO MAS TAMBÉM A QUESTÃO DE NÃO FAZER FIGURA DE

Aqui há uns dias um urso espanhol teve a delicadeza de nos visitar, transformando-se instantaneamente numa atracção mediática efusivamente saudada por todos os amigos da natureza. Um urso tímido, mas guloso (veja-se a primeira notícia abaixo), que, como aquelas discretas estrelas de cinema de Hollywood em visita particular, regressam discretamente ao seu país sem sequer se deixarem fotografar. Este urso espanhol lambeu-se com os favos assim como o Harrison Ford de uma outra vez se tinha batido com um cabritinho no forno. E, no Observador de há uns dias, perdera-se o seu paradeiro.
Conforme se pode constatar através do mapa acima, publicado no El País de hoje, existem quatro distintas comunidades de ursos no país vizinho (essas, ao menos, não fazem perigar a consciência da unidade nacional de Espanha...). Mas o conteúdo da notícia devia-nos servir de alerta para o perigo potencial destes ursos que resolvem usufruir da liberdade de circulação do espaço Schengen. É que hoje está a decorrer uma cimeira franco-espanhola, para tratar do problema de uma ursa que, vinda de França, prefere vir comer ovelhas ao lado espanhol. Os espanhóis, ao contrário do dono das colmeias da notícia do Diário de Notícias mais acima, estão muito chateados com as oito ovelhas mortas, e não ajuda o problema o facto de a ursa ser uma imigrante eslovena, importada pela França no Outono passado, para repovoar (de ursos) as encostas setentrionais dos Pirenéus. Analisando a questão mais vasta dos ursos transfronteiriços, preconizar-se-á uma maior contenção na manifestação dos entusiasmos ambientalistas cá por Portugal (não haverá exagero no uso da expressão «o privilégio de ser visitado pelo urso-pardo»?!). E ocorre-me a dúvida: era o dono das colmeias que estava assim tão indiferente aos estragos provocados pelo urso, ou era o jornalista que achava que ele achava isso?

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