13 maio 2019

SERÁ QUE TERÁ CHEGADO A HAVER MESMO JORNALISMO ECONÓMICO EM PORTUGAL?

Neste ambiente de quase pogrom, em que se multiplicam as facas assestadas para se cravarem em quem teve responsabilidade directa, indirecta, ou ainda que remota, pelo colossal calote pregado por Joe Berardo, será tempo de constatar que o tempo, os factos e, sobretudo, os exemplos anteriores de figuras como Nicolau Santos ou José Gomes Ferreira, tornam a reavivar a pertinência de questionar se não foi uma ilusão, a de que existiu um jornalismo económico em Portugal, que escrutinava o que estava a acontecer. No caso concreto das operações de Joe Berardo, e para que as culpas não recaiam sempre nos mesmos, o exemplo centra-se nos artigos de época de Cristina Ferreira (2008), jornalista depois premiada pela Ordem dos Economistas (2011), para que, através da chancela do prémio*, não se fique com a ideia que é só o rei que vai nu: a bondade como o assunto foi acompanhado, o financiamento de uma guerra através de operações de Bolsa, sem quaisquer garantias, permite hoje a conclusão de que, mais do que um rei nu,  tratou-se mesmo de todo um desfile de nudistas! Agora, é só uma questão de pontaria política para escolhermos a quem queremos apontar, por então não ter dito nada.  
Se alguém se dispuser a recomeçar a trabalhar em jornalismo económico em Portugal, vai mesmo ter que começar a partir do zero, se não mesmo de mais atrás ainda...


* O júri que atribuiu o prémio era presidido pelo Bastionário Rui Leão Martinho, e composto por Jacinto Nunes, João Salgueiro, Fernando Teixeira dos Santos e Miguel Beleza. O prémio foi atribuído por unanimidade, tendo a vencedora derrotado outros quatro nomeados: Pedro Santos Guerreiro, director do Jornal de Negócios, António Costa, director do Diário Económico, José Gomes Ferreira, subdirector da SIC, e Sérgio Gonçalves, da agência Reuters.

6 comentários:

  1. Tem razao.
    Mas atencao que esse tal de jornalismo economico tambem nao existe fore de Portugal.
    Alias toda essa nocao do jornalismo em geral como "quarto poder" ou forma de contrapeso democratico ao poder e um mito.

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  2. Claro que esse tal de jornalismo económico não existe fora de Portugal, assim como nunca existiu em Portugal!

    O que existe em Portugal é A PRESUNÇÃO que existia um jornalismo económico, subespecialidade qualificada do jornalismo generalista, muito mais objectivo, fundamentado e, quiçá até, científico, que os outros jornalismos.

    Era isso que permitia distinguir - e aqui não estou a imaginar nada que não tenha visto defendido - Fernanda Câncio, que era uma tontinha que dizia coisas muito arrebatadas e emocionais, de José Gomes Ferreira, com a sua sobriedade de análise e as suas propostas concretas e analíticas para o governo do país (ainda se lembra do "programa de governo" dele?).

    O mais triste é que a incompetência de um dos lados (no caso em apreço, de Cristina Ferreira) não é compensado pela relatividade de apreciar o outro lado com mais indulgência: Fernanda Câncio continua sem desculpa de ter andado tanto tempo perto de José Sócrates e de nunca ter dado por nada; os factos sobre a "colossal" dívida de Berardo, conhecidos de há muito, mas que só agora tiveram ressonância, realçam apenas a evidência que, num outro ângulo de abordagem, uma jornalista premiada como Cristina Ferreira também não exprimiu qualquer reserva quanto ao que se estava a passar.

    Agora quanto a essa história do quarto poder, eu posso não esperar muita coisa do jornalismo em geral, mas quando vejo, por exemplo, Jeremy Paxman a desfazer o Sting mais a conversa da treta dele sobre o ambiente, dou-me por muito satisfeito...

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  3. Caro A.Teixeira,
    Concordo com tudo o que diz. So avisei e aviso que o fenomeno nao e uma excentricidade portuguesa.
    Essas presuncoes de distincao no jornalismo a que alude sao apenas ilusoes de escolha para sustentar no essencial a narrativa das estruturas de poder.


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  4. Peço desculpa se o meu texto tem uma aparência discordante daquilo que escreveu originalmente. Não era o caso.

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  5. É aquilo que se pode denominar por "Síndrome Pedro Marques Lopes": num número apreciável de vezes em que participa no programa Bloco Central limita-se a subscrever as opiniões de Pedro Adão e Silva, mas sempre com uma atitude muito confrontacional!

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  6. Acho que os Gatos Fedorentos fizeram uma rabula sobre isso, eram aquelas pessoas com o habito irritante de comecar todas as frases com "Nao!".
    :)

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