12 maio 2019

AS CÓPIAS DE PECHISBEQUE DOS NOSSOS MACAQUINHOS DE IMITAÇÃO


Cannes, Maio de 1969. Para se promover e promover o filme em que participava (Z - A Orgia do Poder), o actor francês Jean-Louis Trintignant (que viria a receber o prémio de melhor actor nesse Festival...), deixa-se entrevistar por uma jornalista enquanto é filmado ao volante de um Mercedes desportivo descapotável, passeando-se pela Promenade de La Croisette. A cena fazia sentido, considerando a popularidade alcançada pelo actor em Um Homem e Uma Mulher (1966), onde ele desempenhara um papel como condutor desportivo, aparecendo repetidamente nesse filme a conduzir. Só que, passados um ano e cá em Portugal, vemos uma cena decalcada da anterior, agora a pretexto da promoção do filme O Cerco. Decalcada é como quem diz... Entrevistador e entrevistada trocam de posição e agora é o primeiro que conduz; Maria Cabral era modelo de publicidade, não tinha nada a ver com automóveis (se calhar, nem tinha carta de condução); ao contrário do original, é também ele, o entrevistador, a fazer quase todas as despesas da conversa; a Croisette de Cannes é trocada por uma das laterais da Avenida da Liberdade com a cena a ser filmada à noite e a luminosidade a deixar imenso a desejar; e o desportivo descapotável passou de um opulento Mercedes para um mais económico e maneirinho Peugeot (adenda: alguém me esclareceu amável e posteriormente tratar-se de um Fiat, o que não desvirtuará substancialmente o panorama). Mas, como diria uma das personagens de Eça de Queiroz: parecia Chique a Valer!, que por cá e mesmo oitenta anos depois da publicação de Os Maias, continuavam a ser bem poucos os que tinham meios e oportunidade para distinguir entre o que era artisticamente original e aquilo que era contrafacção do que se fazia no estrangeiro.

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