27 maio 2019

A PRIMEIRA TRAVESSIA AÉREA DO ATLÂNTICO

27 de Maio de 1919 e continuando a dedicar a nossa atenção a centenários da aviação, embora este seja bastante mais bem sucedido do que o anterior. O hidroavião NC-4 da Marinha dos Estados Unidos, a bonita banheira alada que se pode apreciar na fotografia acima, e que está hoje exposta num museu da Florida, completa a sua primeira viagem transatlântica com escalas. Esta foi uma façanha que deveria dizer alguma coisa aos portugueses, já que o término da viagem que hoje se assinala, ocorreu precisamente em Lisboa (veja-se a foto final), tendo também os Açores desempenhado um papel importante no seu sucesso.
A viagem havia-se iniciado - pela menos na sua fase verdadeiramente transatlântica - em 16 de Maio e a expedição era originalmente composta por três hidroaviões, baptizados com os poucos poéticos nomes de NC-1, NC-3 e NC-4 (o NC-2 fora desmontado e posto de reserva para fornecer peças de substituição). Mas, mais importante que a frota voadora era a frota clássica que apoiava a expedição: nada menos que 21 navios de guerra dos Estados Unidos estavam estacionados ao longo do percurso previsto do voo (veja-se esquema abaixo), separados por intervalos de cerca de 100 km, para acorrer às tripulações em caso de emergência.
Nesses tempos em que a falta de fiabilidade do material era uma premissa, esse cuidadoso colar de assistência revelava-se uma precaução assisada: à chegada da expedição à Horta no Faial, depois de mais de 15 horas de voo, constatou-se que só um dos hidroaviões (o NC-4) se mostrava em condições de prosseguir viagem. E mesmo assim, não por muito tempo: a segunda parte da viagem, prevista para 20 de Maio, acabou por não se concretizar por problemas nos motores, e o último sobrevivente da expedição apenas voou da Horta até Ponta Delgada (240 km), onde depois teve que ficar à espera que a assistência, que vinha atrás de si a vapor, o reparasse.
A última ligação só se reatou a 27 de Maio, e o voo de Ponta Delgada até Lisboa foi monitorizado por 13 navios dispostos ao longo do percurso, tendo durado 9 horas e ¾ até que a banheira viesse aterrar nas águas do Tejo. A viagem durara 11 dias mas o tempo de voo acumulado fora de 26 horas e ¾. A valia destas proezas tem, contudo, um lado objectivo e outro subjectivo: e em 1919 o interesse em destacar proezas que simbolizassem a aproximação entre a Europa e a América era nulo. Aquele mesmo Tejo que, há precisamente cem anos, via chegar por entre uma indiferença ostensiva, os americanos que haviam completado - é verdade que recorrendo a meios muito para além das nossas possibilidades... - a primeira travessia aérea do Atlântico Norte, verá dali por três anos, não apenas a partida, mas depois todas as incontáveis celebrações, da primeira travessia aérea do Atlântico Sul, essa protagonizada por Gago Coutinho e Sacadura Cabral.

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