Pequim, 20 de Maio de 1989. Persistia o impasse que se instalara na Praça Tiananmen, ocupada desde meados de Abril pelos estudantes reclamando a abertura do regime. Ocupando-a sob os olhares da comunicação social de todo o resto do Mundo, e tendo por contraponto a alardeada benignidade de Mikhail Gorbachev e as reformas por si empreendidas na rival União Soviética, as autoridades da República Popular China pisavam um terreno delicado na forma como responder a um desafio à sua autoridade. Neste dia de há trinta anos, numa daquelas cautelosas movimentações mais simbólicas do que concretas em que a política chinesa é especialista, Deng Xiaoping, o verdadeiro poder na China, afastou Zhao Ziang, o secretário-geral do Partido Comunista, e conferiu a proeminência a Li Peng, o primeiro-ministro que foi encarregue de aparecer na televisão anunciando a instauração da lei marcial. De uma forma rebuscada, tipicamente chinesa, a lei marcial era para ser proclamada mas não era bem para ser implementada de imediato, como se veio a perceber pela evolução posterior dos acontecimentos. Repare-se na notícia acima, e naquele título intercalar e sentimental referindo-se a «Soldados "lavados em lágrimas"», tudo o que acontecera até ali apresentava-se como uma contrariedade. Mas, já então, as cadeias de televisão norte-americanas possuíam uma gramática muito própria de cobrir os acontecimentos, que nunca incluiu a leitura dos ensinamentos de Sun Tzu. Vai daí, cadeias como a CBS interrompiam amiúde a sua programação regular para transmitir... irrelevâncias. No caso desta proclamação da lei marcial até estava a dar o folhetim Dallas (abaixo). E no entanto, e passe o paradoxo, tanta atenção dispensada ao que acontecia naquela praça não era afinal irrelevante, pois a presença da comunicação social internacional era um factor de dissuasão da intenção das autoridades chinesas em encerrar a questão.
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