30 maio 2019

O RIDÍCULO EM POLÍTICA E A CONTRIBUIÇÃO DA ESCOLA LUSITANA DE RECENSEAMENTO ELEITORAL

O maior fenómeno do ridículo em política são aquelas eleições unânimes. O Comunismo colapsou e, mesmo assim, continuou a haver eleições em que a expressão se aproxima, e chega mesmo a ultrapassar, os 99% dos votos. O artigo acima do lado esquerdo, publicado há uns cinco anos, relembra-nos alguns casos mais conhecidos, como sejam os da Coreia do Norte (99,9%), Cuba (99,4%) ou da Síria (97,6%). Trata-se de um fenómeno típico das ditaduras (obviamente!), mas não é apenas o lado político da questão. Há ditaduras fundadas em maiorias permanentemente forjadas de 60 e 75% dos votos. Chega-lhes a maioria absoluta (exemplo: a ditadura militar brasileira). Mas nestes outros casos, há uma perspectiva sociológica que acompanha aquela desfaçatez de publicar resultados que são tão constrangedores quanto inverosímeis, e conviver alegremente com isso, como se o medo da autoridade fosse superior ao medo do ridículo. Ou então é mesmo a indiferença ao ridículo, como se num determinado país do Mundo fosse moda os homens passearem-se com as cuecas por cima das calças e todos os habitantes de Pyongyang se vestissem assim, desconhecedores de que, no resto do Mundo, a moda era outra...

Que me desculpem a extensão do preâmbulo, mas precisava dele para explicar a minha perplexidade com o que de há muitos anos para cá tem vindo a acontecer com os recenseamentos eleitorais em Portugal e que nestas últimas eleições europeias teve um pináculo que exibo na figura acima, do lado direito: a afluência às urnas dos eleitores inscritos no estrangeiro: 0,96%! É um resultado tão ridículo quanto os 100% alcançados pelo Saddam Hussein da fotografia do lado. Neste último caso votaram todos, mesmo aqueles que não quisessem, no nosso caso, atribuímos-lhes direito de voto, mesmo aos emigrantes que o não quisessem. E, ostensivamente, eles mostraram-nos que não queriam. Correu mal: taxas de participação eleitoral abaixo de 1% são uma vergonha! Há mais de vinte anos que se sabe que os cadernos eleitorais estão viciados; estima-se por quanto, sabe-se onde e sabe-se porquê. E também se sabe que, para que o direito a votar readquira o seu valor e não se transforme num direito em saldo que se despreza, como agora aconteceu com os emigrantes, se impõe realizar um novo recenseamento eleitoral de raiz. Para que não sejamos o outro lado da piada da reeleição de um ditadorzeco de uma qualquer antiga república soviética.

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