22 maio 2019

SALAZAR E A EUROPA

22 de Maio de 1939. A propósito de uma planeada viagem presidencial às várias colónias africanas, ocasião em que o presidente Óscar Carmona e a sua comitiva iriam tocar portos sul-africanos e assim um país estrangeiro, a Assembleia Nacional reuniu-se para produzir a necessária autorização constitucional e também pretexto para o presidente do Conselho apresentar um discurso sobre política externa, que se veio a revelar um elaborado exercício de equilíbrio entre o tradicional vector marítimo, consubstanciado na aliança luso-britânica e a parceria ibérica, forjada no apoio ao regime franquista, recém vencedor da sua guerra civil. A visita era a África, mas o discurso concentrou-se na Europa. Estranhamente, para um discurso desta importância, para mais quando proferido por alguém (Salazar) não muito propenso a discursos públicos, o quórum dos deputados presentes era estranhamente baixo: apenas 73 em 90 (81%). A legitimidade política dos deputados também não era assim muito elevada...
E, contudo, a importância do tópico da política externa, assim como a seriedade da evolução da situação internacional, mormente na Europa, justificava-se por si mesma: naquele mesmo dia, em Berlim, a Alemanha e a Itália formalizavam a sua aliança, que pomposamente vieram a designar por Pacto de Aço. Repare-se abaixo como a notícia é introduzida no mesmo Diário de Lisboa do dia: «O Bloco dos Países Totalitários», excluindo-nos desse grupo. Eu não me canso de chamar a atenção para que os regimes nacionalistas autoritários de direita e extrema direita, pela sua própria natureza, não funcionam de forma concertada, antes rivalizam entre si. A Alemanha nazi começou a Segunda Guerra Mundial invadindo uma Polónia que tinha um regime desses, autoritário; depois, a Itália fascista fez precisamente o mesmo com a Grécia. As notícias que se publicam por aí sobre alianças das extremas-direitas europeias podem concitar as atenções do leitor, mas, descontando o dinheiro russo que as financiará a todas e talvez o guru da moda, Steve Bannon, pouco mais haverá a uni-las, no dia em que tiverem responsabilidades executivas...

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