22 de Maio de 1969. Há cinquenta anos, um daqueles mistérios bem ao jeito da Guerra Fria que então se vivia. Quem andaria a liquidar os generais soviéticos? Os jornalistas ocidentais haviam-se dedicado a seguir o obituário do jornal Estrela Vermelha, órgão oficial das forças armadas da União Soviética e acreditavam ter-se deparado com uma anomalia, no ritmo dos falecimentos dos oficiais generais. Naquele dia, assinalava-se a morte de mais um, o 17º óbito desde 10 de Abril, e a recorrência dos episódios já puxara o fenómeno para a primeira página das edições. Haveria algum James Bond nazi a trabalhar o caso, liquidando velhinhos russos de porte marcial, ou tratar-se-ia de um expediente dos comunistas, esses malvados, a porem o Estado a poupar nas pensões de velhice mais caras?...
Nada disso. Naquele ano, haviam-se registado (e virão a verificar-se) as mortes de antigos generais soviéticos que haviam adquirido alguma notoriedade durante a Segunda Guerra Mundial (1), (2), (3) e a imprensa ocidental interessara-se pelo assunto. Ora, durante o conflito, o Exército Vermelho tivera um efectivo de mais de dez milhões de soldados e, por isso, seria natural que restassem muitos milhares de oficiais generais reformados, então com idades avançadas. Naquela boa maneira superficial como o jornalismo trata os assuntos, as notícias iniciais acabam por alimentar o interesse de mais notícias do mesmo género, sem cuidar de perceber o que seria normal e o que seria anómalo. É que, não eram apenas os generais soviéticos, veteranos da Segunda Guerra Mundial, que estavam a morrer: a 28 de Março de 1969, menos de dois meses antes, morrera Dwight D. Eisenhower...
O fenómeno noticioso desapareceu misteriosamente, tal qual aparecera. Mas está sempre a ressurgir porque o jornalismo não tem nenhum incentivo para aprender com os erros destes. O tópico é que varia. Um dos mais frequentes e reconhecíveis da actualidade são os automóveis que entram em contramão nas auto-estradas, normalmente conduzidos por idosos. Normalmente quando aparece uma notícia dessas, normalmente porque a asneira por uma vez provoca vítimas, segue-se-lhe um comboio delas, iguais ou muito semelhantes, sem cuidarem de nos esclarecer qual a sua frequência normal do fenómeno.
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