Em data incerta do segundo semestre de 1942, numa fotografia a cores que se suspeita ter sido encenada, um tenente alemão deixa-se fotografar rodeado pelo entulho causado pelos combates por uma Stalinegrado destruída. É curiosa aquela vertigem dos combatentes da frente em, mais do que o capturar como troféus, passarem a empunhar algum do armamento mais característico do inimigo. A prática parece ser milenar e vem sempre acompanhada de explicações plausíveis sobre as vantagens comparativas do equipamento capturado, mas a suspeita é que as verdadeiras explicações são do âmbito dos deuses da guerra e não propriamente tecnológicas.
Quanto à PPSh-41, arma soviética típica da Segunda Guerra Mundial, arma tão prezada pelos soldados alemães, foi a pistola-metralhadora mais produzida durante aquele conflito - até 1945 haviam sido construídas cerca de cinco milhões (contra o milhão das concorrentes MP-40 alemãs). O que a popularizaria era a sua simplicidade de construção, de uma rusticidade que a tornava fiável e fácil de manter, pensada para funcionar sob o frio russo. Tanto foram as armas capturadas durante o período inicial da invasão da União Soviética pela Alemanha (1941/42) que os alemães produziram um manual seu sobre o seu emprego.
Na frente de combate, enquanto as pistolas-metralhadoras MP-40 estavam reservadas para graduados (oficiais e sargentos), a captura e o posterior emprego (desde que devidamente autorizado) de uma pistola-metralhadora soviética por um soldado alemão representaria, por assim dizer, uma ascensão social na hierarquia de guerra. Daí o prestígio. Acresce a isso que, e regressando à fotografia inicial, quando de situações de combate urbano (como acontecia em Stalinegrado), tudo aquilo que seriam as desvantagens da PPSh-41 quando em comparação com a MP-40 (como a precisão e o alcance) perdiam importância. Até os oficiais se afeiçoavam à pistola-metralhadora soviética.
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