26 janeiro 2017

AFINAL, HAVIA MÁQUINA

Como alguém comentou a propósito desta pretensa descoberta do Observador, «o spin e a comunicação» de «um homem só e sem partidos» «não diz nada sobre Marcelo que já não soubéssemos»: «diz muito é sobre o jornalismo político em Portugal». Nem me passa pela cabeça assumir que, aos jornalistas que acompanharam Marcelo em campanha, lhes passou ao lado a lista de coordenadores que o Observador publicou (abaixo). A uns quantos, entre jornalistas mais obtusos e coordenadores mais discretos, ainda vá que se escapasse. Agora a todos e, ainda por cima, com a coincidência de eles pertencerem a estruturas locais do PSD?... Improvável. Assim como é de realçar a oportunidade deste furo jornalístico quando se está prestes a completar um ano de uma presidência que o Observador tem apreciado de uma forma cada vez mais desiludida. Mas sobretudo, se me resolvi a publicar este comentário, não foi para comentar o que consta da notícia do Observador, mas para realçar aquilo que lá não consta. Em lado algum se esclarece se os coordenadores "partidários" (a «máquina laranja» que é referida na notícia) participaram na campanha de Marcelo com ou sem o beneplácito da direcção nacional do partido. É que convém recordar um dos momentos mais engraçados da política portuguesa recente, quando Marcelo Rebelo de Sousa tomou inesperadamente a palavra no XXXV Congresso do PSD (Fevereiro de 2014) e roubou completamente o protagonismo da cerimónia a Pedro Passos Coelho. Nesse momento de desautorização ficou claro que uma apreciável percentagem das bases do PSD e da «máquina laranja» não iriam seguir a moção de estratégia que Passos Coelho apresentara nesse congresso (anti-Marcelo, o «catavento»). Dois anos depois, essa máquina que afinal existia, será mais sacada por Marcelo Rebelo de Sousa do que cedida por Pedro Passos Coelho. Podia ter sido dito na notícia, mas não foi. Agravaria a perfídia de Marcelo Rebelo de Sousa, um ladrão de máquinas partidárias, mas enfraqueceria na mesma dinâmica a autoridade do próprio Pedro Passos Coelho. E este último ainda é o pivot político para quem edita o Observador.

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