Ao ler hoje mais um auto-elogio de um jornalista económico, felicitando-se pela sua presciência e pela sua clarividência a respeito de um assunto que o incomoda, mas que não me parece assim tão desesperadamente importante, cansei-me. Tanto me cansou que me lembrei de regressar dois anos e meio ao passado, ao dia em que aconteceu algo de realmente importante: quando o ministro das Finanças, Vítor Gaspar, se demitiu para, no dia seguinte, ser imitado pelo seu colega dos Negócios Estrangeiros, Paulo Portas, só que este último o fará irrevogavelmente. Nesse dia, nos ecrãs da SIC Notícias, o jornalista económico José Gomes Ferreira (que também é redactor de programas de governo como passatempo), comentava e antevia assim as consequências da demissão de Vítor Gaspar:
- ...e o resultado vai ser a subida da nossa... das yields... das taxas de juro da dívida em mercado secundário. Vão subir... Atenção! Estamos a caminho de uma nova Grécia! Atenção a isso! Nos próximos dias vamos ver como isso vai ser rápido e infelizmente vai acelerar esta tendência.
(o gráfico abaixo mostra a evolução da yield a 10 anos desde então até hoje)
- Os erros e os falhanços de previsão de Vítor Gaspar são incomparavelmente menores que o valor para o conjunto do país do que foi a correcção da despesa do Estado feita até agora e da correcção da nossa conta externa feita até agora. São valores incalculáveis e as pessoas ainda não tomaram bem consciência disso.
(eis o cálculo de um desses valores incalculáveis, o valor do défice que Gaspar herdou no primeiro semestre de 2011 de Teixeira dos Santos - 8,3% - quando comparado com aquele que legou no primeiro semestre de 2013 a Maria Luís Albuquerque - 7,1%)
- ...Tempos virão em que isto será dito assim por muita gente. Agora toda a gente acha que é um alívio. (...) Esta é a história da demissão de um ministro desgastado pela falta de solidariedade dentro do governo.
(Mais de dois anos transcorridos das proféticas previsões de José Gomes Ferreira, em vez da muita gente que mudou de opinião a respeito de Vítor Gaspar, terá sido o próprio Vitor Gaspar - e Carlos Moedas e Miguel Frasquilho - a mudar(em) de opinião...).
Sem a cabeça de um académico e sem a cintura de um político, como analista económico José Gomes Ferreira está transformado numa spent cartridge. Como entertainer mediático a respeito desses mesmos temas manterá, ainda assim, os seus fiéis, arrastando as suas audiências, juntando-se a um clube selecto que conta com figuras graúdas do espectáculo como Camilo Lourenço ou Medina Carreira...
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