A 6 de Janeiro de 1945 Jacques Doriot (acima) anuncia aos microfones de Radio-Patrie (sedeada na Alemanha) a fundação do Comité da Libertação francesa («Comité de la Libération française»). A inspiração com o que acontecera quatro anos e meio antes a partir de Londres é demasiadamente evidente para poder ser desmentida. Mas quem é Jacques Doriot, este Charles de Gaulle tardio que as vicissitudes de guerra transformaram num peão dos interesses alemães e que a História virá depois a condenar ao esquecimento? Jacques Doriot (1898-1945) começara por ser uma estrela em ascensão entre os quadros do Partido Comunista Francês (PCF): eleito deputado aos 25 anos por Saint-Denis (comuna operária dos arredores ao norte de Paris), Jacques Doriot veio também a ganhar as eleições municipais tornando-se o maire da localidade de 1930. Saint-Denis era simultaneamente um bastião comunista mas também um feudo pessoal de Jacques Doriot. Tanto assim que nas eleições gerais de 1932, onde se assistiu ao primeiro recuo significativo da votação nos comunistas (-3%), Doriot foi o único dos dez deputados comunistas a ser eleito logo à primeira volta, com mais de 50% dos votos no seu círculo eleitoral. Mas esse prestígio entre os militantes em França nada pôde fazer para contrariar as opções e directivas emanadas de Moscovo e do Comintern que privilegiavam outra grande estrela em ascensão, o seu grande rival, Maurice Thorez (1900-1964), que se tornara entretanto o secretário-geral dos comunistas em 1930.
A rivalidade pessoal entre os dois, disfarçada de uma discordância quanto à tactica política a adoptar (anacronicamente, foi a tese de Doriot, a da formação de uma união de todas as esquerdas, a que acabou por vingar), levou a que Jacques Doriot viesse a ser expulso do PCF. Em 1936 fundava o Partido Popular Francês (PPF), uma formação ideologicamente fascista a que ele adicionava toda a sua experiência política prévia, nomeadamente uma reputação invejável como orador de meetings políticos (veja-se o vídeo). Alguns dos quadros do novo PPF (de que Paul Marion é apenas o exemplo mais destacado - chegou a ministro do governo de Vichy) haviam feito viagens ideológicas muito semelhantes à do seu líder. É uma direita totalitária que não se distingue assim tanto da esquerda totalitária na sua iconografia (veja-se abaixo a invocação do 1º de Maio), nem na sua arrogância, ao consideraram-se a (nova) ideologia do futuro: sob a fotografia de Jacques Doriot que aparece acima, pergunta-se se ele será o homem do amanhã. Não foi, mas registe-se a petulância... Muito disto começa anos antes do começo da Segunda Guerra Mundial. Foi a ocupação alemã, a opção pelo colaboracionismo e o efeito abarbatador dos interesses alemães e do nazismo que reduziram toda aquela gente a um papel de figurantes e que os mandaram para o lado dos vencidos da guerra e dos esquecidos da História. Mas existe uma tal simplificação na forma como eles foram remetidos desde sempre e apenas ao papel de colaboracionistas, que sempre me perguntei se isso se deveria apenas à ignorância e/ou à negligência...
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