Ainda a pretexto de efemérides que podem ser consideradas na continuidade do «Cerco» de Sidney Street de há mais de 100 anos, evoque-se que há precisamente 14 anos, a 5 de Janeiro de 2003, ocorreram as primeiras seis detenções dos envolvidos naquela que veio a ser conhecida pela «Conspiração» da Ricina. Os seis detidos, conjuntamente com o sétimo que aparece na foto acima (Kamel Bourgass, que veio a ser detido dias dias depois e que resistiu à detenção à facada, tendo morto um agente e ferido mais três conforme se pode deduzir do cabeçalho acima), foram todos sete acusados da intenção de vir a lançar um ataque bioterrorista no Metro de Londres, utilizando a letal ricina. Invocando a sua natureza delicada, o acompanhamento do assunto veio a ser sonegado da sempre inquisitiva comunicação social britânica, apesar do assunto da «Conspiração» londrina ter vindo a ser evocado um mês depois por Colin Powell naquele seu (agora) famosíssimo discurso que pronunciou diante dos membros do Conselho de Segurança da ONU (5 de Fevereiro de 2003) em prol da invasão do Iraque.
Os contornos do assunto só vieram a tornar-se mais transparentes depois do verdadeiro escrutínio judicial (os respectivos julgamentos), processo que só se concluiu dali por mais de dois anos (em Abril de 2005), onde só Kamel Bourgass veio a ser condenado a prisão perpétua pelo homicídio e pelas agressões aos agentes que o haviam detido. Continua preso e é inequivocamente um indivíduo perigoso, terrorista ou não. Mas todos os outros envolvidos na conspiração não sofreram qualquer condenação à excepção de dois, e esses pela posse de passaportes falsos... Pior do que isso, soube-se que, retrospectivamente, as autoridades britânicas haviam sabido quase desde o início que não havia sido encontrada qualquer quantidade de ricina que consubstanciasse a ameaça que se proclamava. Mas esses eram tempos especiais em que o poder político britânico e o seu primeiro-ministro Tony Blair se manifestavam empenhados na causa da invasão do Iraque e valia tudo: a cimeira das Lajes veio a ter lugar dois meses depois das detenções, em Março de 2003...
Foram tempos muito educativos quanto ao que se pode fazer quanto à manipulação da opinião pública... e publicada. Não sei se a primeira recolheu os ensinamentos devidos, nomeadamente que cada um de nós que constitui a opinião pública não precisa de ter a mesma premência em formar uma opinião dos que os que constituem a opinião publicada. Eles é que têm pressa em dizer-nos qualquer coisa, nós temos tempo até descobrir a Verdade...
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