Só a 4 de Maio de 1982, dois dias depois do acontecimento, é que se soube do afundamento do cruzador argentino ARA General Belgrano pelo submarino britânico HMS Conqueror. Como se percebe, 48 horas é um hiato de tempo enorme para um acontecimento desta envergadura e com estas repercussões - a notícia acima está algo exagerada quanto ao número de vítimas mas, mesmo assim, morreram 323 marinheiros argentinos. Mas, a esta distância temporal, percebe-se hoje que o tempo fora utilizado pelos argentinos para, para além de se vitimizarem, darem um spin que lhes fosse favorável na notícia. O discurso e a discussão concentraram-se nas dúvidas em saber se o cruzador argentino - um navio de guerra, recorde-se... - estaria ou não estaria e, estando, se estaria a afastar-se ou não da área de exclusão que os britânicos haviam estabelecido ao redor das ilhas Malvinas. Ilhas Malvinas que haviam sido invadidas pela Argentina, convém também recordar, já agora, as razões do conflito... Se o afundamento do Belgrano só chegou ao conhecimento público no momento em que um dos beligerantes tomou a iniciativa de o fazer (dissipando o nevoeiro de guerra), esse conhecimento foi trabalhado para apresentar os factos de uma maneira mais vantajosa (neste caso, menos lesiva) para o lado que o faz (promovendo a propaganda de guerra). Contas feitas, era apenas ridículo discutir o tópico do afundamento do cruzador colocado no ponto de vista que os argentinos desejavam. Só era preciso que houvesse palermas que, por razões diversas, estivessem dispostos a pegar no assunto a partir daí (acima o Diário de Lisboa). Esta evocação é sobretudo uma chamada de atenção pedagógica para os disparates que pululam por aí a respeito da invasão da Ucrânia.
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