«As pernas das nossas actrizes de revista começam a desnudar-se. Estamos no início de grandes revelações. Dantes, timidamente, só se mostravam braços e colos que os olhos percorriam para chorarem condoídos sobre tão pálidos alabastros. A crise das subsistências vem prejudicando muito estas exibições. A plástica das mulheres correlaciona-se com uma boa alimentação. Ontem, porém, na revista "Tiro ao Alvo", no último quadro, se não estamos em erro, a jovem actriz Judite de Sousa, que o nosso "Diário de Notícias" chama um amor de rapariga, apresentou à admiração do público umas pernas fortes, sólidas, que muito hão de concorrer para refrescar as almas sequiosas de perfeição.» Era assim que o Diário de Lisboa de há cem anos projectava para a sua primeira página as pernas da Judite de Sousa. Não existem registos de como a dita Judite de Sousa terá acolhido tal projecção, mas esse é assunto que se tornou, por uma enorme e estranha coincidência, francamente actual, ao constatar-se a atitude maldisposta recentemente manifestada por uma outra Judite Sousa (esta sem de...), quando se viu projectada para o estrelato por um programa humorístico de rádio. Não por causa de ter umas pernas bonitas, mas por ser parodiada pela pedante convencida que é.
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