11 maio 2022

QUANDO A MÁQUINA VENCEU O HOMEM

Nova Iorque, 11 de Maio de 1997. Num torneio de desforra, um computador da IBM, concebido especificamente para o jogo de xadrez, denominado Deep Blue, vence por 3,5-2,5 o Grande Mestre Garry Kasparov, o então campeão do Mundo da modalidade. Esta vitória foi considerada um marco na história da inteligência artificial. Que marco histórico teria representado essa vitória, é que se tornou cada vez mais duvidoso para mim, depois dos 25 anos entretanto decorridos. Recorde-se que este encontro era uma desforra de um outro no ano anterior, que Kasparov vencera (4-2). Parecia ter-se estabelecido uma competição taco-a-taco entre Homem e Máquina. Mas a verdade é que não houve, depois deste, novos encontros para uma outra desforra, apesar das repetidas solicitações de Kasparov para tal, o que acabou por conferir consistência às acusações que o projecto de desenvolver o Deep Blue não passara de uma gigantesca manobra promocional da IBM, sem qualquer interesse científico por detrás, e sem grande margem de progressão no campo do desenvolvimento da inteligência artificial. Dali saíram máquinas que jogam muito bem xadrez, mas a inteligência - natural ou artificial - é muito mais do que o xadrez e pode exprimir-se de variadíssimas outras maneiras.

4 comentários:

  1. Eu não sou especialista da matéria e portanto posso estar a dizer disparates mas, tanto quanto entendo, a "inteligência artificial" (IA) até por voltas do ano 2000 era muito diferente daquilo que é agora, e isso pode explicar a falta de continuidade desta competição de xadrez.
    A IA até 2000 (mais ou menos) era realmente IA, tentava-se analisar diferentes posições e diferentes movimentos das peças para ver qual seria o melhor resultado.
    A IA desde 2000 é antes a aprendizagem automática, por parte do computador, de certos padrões, o seu reconhecimento e dar a cada um desses padrões uma resposta automática. Não é de facto inteligência.
    Para a IA atual aquilo que interessa é, por exemplo, um carro automático quando vai na estrada saber reconhecer um sinal de limitação de velocidade e por consequência imediatamente travar. O carro não tem que saber avaliar o sinal, só tem que saber reconhecê-lo e reagir adequadamente.

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  2. Lavoura, estou a gostar desta sua nova abordagem, em jeito de desculpa prévia, como se assumisse - por hipótese - que não tinha jeito nenhum para "jogar à bola" mas... "remata" na mesma!

    Eu também não sou especialistas na matéria, mas confesso que me interessa o assunto da inteligência e do aspectos complexos de que ela se pode vir a revestir, e já me dediquei a estudar algumas coisas publicadas a esse respeito.

    Mas também já acompanhei o ciclo de que as máquinas começaram por ser consideradas "muito inteligentes" na fase inicial dos "computadores", nas décadas de 1960 e 1970, deixaram de o ser nas décadas seguintes, quando, com os ZX e os PCs, entraram em casa das pessoas, e agora começaram a sê-lo novamente através da IA que lhes conduz os carros e dos dispositivos que lhes rastreiam a navegação na net e nos pespegam com sugestões que reforçam tudo aquilo que andámos a fazer.

    Mas, para mim, a questão de fundo, que deixei no fim do texto, é do foro filosófico, e passa por aquilo em que assentemos que seja a inteligência. Só assentando e concordando no que ela consistirá poderemos discutir se há ou poderá haver disso em artificial.

    Num filme intitulado «Short Circuit», uma comédia de 1986, das décadas do cepticismo quanto ao poder das máquinas, a metamorfose do robot «Number 5» numa "pessoa" é demonstrada quando ele se ri de uma anedota... por sinal uma piada "seca". Mostrar ter humor pode muito bem ser um critério de inteligência natural... e artificial. Mas não será só isso.

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    1. A. Teixeira, não estou muito interessado em debater a questão daquilo que é inteligência. O meu comentário comentava essencialmente a seguinte parte do postal: "não houve, depois deste, novos encontros para uma outra desforra, apesar das repetidas solicitações de Kasparov para tal, o que acabou por conferir consistência às acusações que o projecto de desenvolver o Deep Blue não [tinha] grande margem de progressão no campo do desenvolvimento da inteligência artificial".
      De facto, por volta de 2000 começou a desenvolver-se um novo estilo de computador (tanto hardware como software), inicialmente chamado "redes neuronais", cujo objetivo era "ensinar" uma máquina a reconhecer (e reagir a) diferentes situações previamente aprendidas através da exposição a múltiplo exemplos. É isso a que atualmente se dá o nome de "inteligência artificial" - embora, de facto, nada tenha a ver com inteligência no entendimento corrente do termo.

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    2. Se «não está muito interessado em debater a questão daquilo que é inteligência», então não tem por que vir invocar as "redes neuronais", Luís Lavoura, se elas, como escreve, «nada têm a ver com inteligência no entendimento corrente do termo».

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