18 de Maio de 1922. Uma das notícias daquele dia é esta acima, em que se dá conta que a tripulação de um navio de pesca português que se encontrava a pescar nas costas sarauís (veja-se o mapa abaixo, o famoso cabo Bojador de Camões aparece expressamente assinalado) fora capturada por piratas oriundos daquele território. Na entrevista em que dá conta do sucedido, a frustração do ministro dos Negócios Estrangeiros de então é evidente, tanto mais que, supostamente, os piratas deviam estar sob uma tutela colonial - espanhola ou francesa - que, comprovadamente, é apenas teórica. Por outro lado, a política da canhoneira, que as potências europeias tanto gostavam de evocar na época, não se pode aplicar dada as circunstâncias específicas dos reféns estarem na posse dos piratas. Conclusão: há que pagar os resgates pedidos pelos piratas. O consolo moral que o Diário de Lisboa acaba por dar aos seus leitores é remetê-los para um antigamente, um antigamente que nunca existiu. A pirataria, assim como a recuperação de salvados era uma prática tradicional e disseminada por aquelas paragens onde os naufrágios eram frequentes.
Mas não apenas o antigamente nunca fora o que o Diário de Lisboa de 1922 sugeria que tinha sido. O futuramente também não o será. O mesmo Diário de Lisboa, mas em 1980, voltará a publicar uma outra história de pirataria dos sarauís e de outros pescadores portugueses raptados quando pescavam por aquelas mesmas paragens. O acontecimento era essencialmente o mesmo, mas o jornalistas e o jornal é que haviam mudado tanto, que agora os piratas haviam passado a ser bons. De uma forma dialéctica, no Diário de Lisboa passou a haver pirataria boa e pirataria má. E quando a pirataria era boa, quem era mau era o «governo português» que era «obrigado a negociar com...» os piratas. Era tudo uma questão de contemporizar com a nomenclatura: os reféns passavam a denominar-se «prisioneiros de guerra»...
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