Edição de Maio de 1972 da edição portuguesa da revista Selecções do Reader's Digest, revista essa que representava então numa das mais reconhecíveis armas de propaganda dos Estados Unidos. Numa das suas página interiores aparece o anúncio da direita, a promoção da sociedade Torralta, um empreendimento turístico então em construção na península de Tróia, que assumia a sua intenção de se financiar captando poupanças privadas dispersas - daí o cupão para recortar a pedir informações no canto inferior direito. Era um exemplo do que poderia ser o capitalismo popular, formado por uma dispersão de muitos milhares de pequenos accionistas, mas foi uma história que não acabou bem. Talvez houvesse optimismo a mais na perspectiva de captar poupanças, talvez fossem as circunstâncias e a recessão de meados da década de 70, amplificada em Portugal com as perturbações geradas pelo 25 de Abril. A Torralta colapsou, intervencionada pelo Estado e tudo, mas a falência e desmontagem daquilo que ela fora foi um processo que se arrastou no tempo: as últimas torres semi-construídas só vieram a ser demolidas em 2009, num episódio estúpida e ostensivamente explorado pelo 1º ministro de então, José Sócrates, que foi lá fingir que era ele que accionava os explosivos. Mas, se aquelas implosões da península de Tróia assinalavam simbolicamente o fim do capitalismo popular, desconhecia-se então que a breve futuro (2014) e para as paragens imediatamente a sul da península, na herdade da Comporta, os tempos estavam a chegar ao fim também para o capitalismo aristocrático dos Espírito Santo... O que haverá que concluir é que, se calhar, em Portugal não existe capitalismo de espécie alguma. Há quem diga que não existe capitalismo porque não existe capital. Eu não sei se concordo, mas deste género popular que se procurava fomentar há cinquenta anos, esse é que não é sociologicamente ao nosso estilo, de certeza. O capitalismo das tias e dos tios, também me parece que é mais aparência que substância...
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