13 abril 2017

O MASSACRE DE AMRITSAR

13 de Abril de 1919. Por ocasião de um festival religioso sique e para reprimir a multidão que se aglomerava numa das praças ajardinadas da cidade de Amritsar, as forças militares sob o comando do coronel Reginald Dyer provocaram a morte de várias centenas de peregrinos e passantes. O ambiente na cidade era tenso mas, veio-se a comprovar, nada no comportamento da multidão justificaria a proporção da acção policial/militar adoptada contra ela. O número oficial de mortos foi de 379 para além de mais 1.200 feridos. Há outros números mais elevados. Uma parte deles foram vitimadas pelas balas, enquanto os restantes foram causados indirectamente pelo estampido da multidão a evitar os tiros. Mas, a agravar ainda mais, se possível, a situação, foi o que se seguiu. Não há fotografias do massacre, como um muro de silêncio tivesse caído sobre a cidade e não se reconhecesse a gravidade do que acontecera, mesmo tendo ele acontecido numa cidade santa para os siques, que hoje conta com mais de um milhão de habitantes. Só muito depois se vieram a fazer reconstituições. E o comunicado dirigido à população local no dia seguinte era redigido em urdu (o menor dos insultos, já que a população local até falava punjabi...), e constava mais ou menos disto:

Vocês sabem bem que eu sou um cipaio e um soldado. Querem a guerra ou querem a paz? Se querem a guerra, o governo está preparado para ela, e se querem a paz, então obedeçam às minhas ordens e abram as vossas lojas; senão dispararei. Para mim os campos de batalha da França e de Amristsar são a mesma coisa. Sou um militar e sou directo.(...)

Adivinha-se o teor do resto da proclamação. Mesmo contando com variadíssimas simpatias pessoais, até mesmo para os poderes coloniais britânicos a conduta de Dyer fora longe demais. Uma comissão de inquérito constituída seis meses depois considerou-o culpado embora as sanções não tivessem sido muito evidentes, num processo em que o réu contara com a anuência tácita da hierarquia colonial. Coisa outra foi a perspectiva das elites indianas locais. O massacre veio a ocorrer no preciso momento em que se esclarecia um equívoco: as elites indianas haviam apoiado lealmente a metrópole durante a Primeira Guerra Mundial na presunção de que a Índia do após-Guerra receberia a mesma autonomia que já fora concedida ao Canadá, à Austrália e até aos africânderes da África do Sul. Nada disso, era o figurino da resposta de Londres cinco meses depois do fim do conflito. Os indianos eram escuros e por isso não tinham categoria para se tornarem num Dominion. É do esclarecimento desse equívoco que o livro acima dedica o seu prólogo ao massacre de Amritsar. A longa caminhada para a Independência da Índia começou ali naquele dia.

Sem comentários:

Enviar um comentário