21 abril 2017

A ESTRATIFICAÇÃO DOS ACTOS DE HIGIENE PRIVADA

Quando nos deparamos com concepções arrojadas de designers russos, como é o caso desta casa de banho que se vê acima, confesso que não sei o que pensar: estaremos perante a expressão do que pode ser o mais puro génio russo como acontece na música com Tchaikosvsky ou na literatura com Dostoiévsky, ou isto é pura e simplesmente delirante? Se bem interpreto o que vejo, houve ali um cuidado em hierarquizar pelos pisos as várias funções que se desempenham numa casa de banho. Mas o critério, como veremos mais adiante, não pode ser o da funcionalidade pela frequência. A começar pelo urinol e pelo duche, no piso térreo sobre a direita. Banho, costuma tomar-se um por dia, embora as idas à casa de banho para urinar sejam bastante mais frequentes. O gesto que costuma estar associado a essas idas é o de lavar as mãos. Porém, com pouca funcionalidade, o lavatório encontra-se localizado no piso intermédio sobre a esquerda, o que obriga o utente a recolher os pertences e subir um degrau para o poder fazer. Mas o acto a que o designer resolveu atribuir indiscutivelmente a primazia foi o de defecar, ao colocar a sanita ao centro e numa posição mais elevada do que todos os outros apetrechos, quase como se se tratasse de um trono e o momento de o utilizar o supremo requinte dos vários actos de higiene privada que se realizam numa casa de banho. O único senão que encontro na concepção e no desenho é a singeleza do suporte do rolo de papel higiénico, a pedir um dispensador automático de folhas de papel macio e absorvente. Claro que, numa perspectiva feminista, circunstância na qual se dispensará a utilização do urinol térreo, todas estas conclusões são substancialmente alteradas...

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