Nesta fotografia, da autoria do fotógrafo Orion Lafuente, uma criança contempla sonhadora o outro lado do estreito do Bósforo que divide a moderna Istambul nas suas componentes europeia e asiática. É uma metáfora da encruzilhada das opções contraditórias sempre presentes no devir da Turquia, dividida entre a sua identidade turca, adquirida por causa das tribos nómadas dessa origem que há mil anos chegaram à Ásia Menor vindas da Ásia Central, em contraste com a omnipresente herança helenística dos que já lá estavam antes disso, herança forjada por quase dois mil anos de pertença ao espaço cultural helénico no Mediterrâneo oriental. Já depois de um referendo cuja surpresa foi apenas a margem apertada da vitória das propostas do presidente Erdogan, a Turquia continua a ser notícia pelos 9.000 polícias que suspende de funções, pelas 800 pessoas que prende. Não restam dúvidas de qual é a face das duas de Janus que representa as intenções do presidente turco. Ouvi-lo abaixo a criticar o Conselho da Europa por ostracizar o regime turco parece uma comédia de mal entendidos quando o vemos a anunciar que a Turquia vai reconsiderar o seu pedido de adesão à União Europeia, quando se já descobriu há muito que, do outro lado, o bloco que actualmente comanda a União Europeia (com a Alemanha à cabeça) nunca terá tido a intenção de admitir a Turquia na organização...
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