04 junho 2014

SERÁ QUE «AS REDES» EM ESPANHA ESTÃO A VER «O FILME» TODO?

Até parece que se estava precisamente à espera da abdicação de João Carlos para que as redes sociais iniciassem o folclore para a convocação de um referendo sobre a monarquia em Espanha. Não tenho a certeza é se todos os das redes, com a superficialidade que as e os caracteriza, compreendem que referendar a figura do chefe de Estado pode ser muito mais do que apenas despejar o rei – que é o que elas verdadeiramente querem, apanhariam um melão descomunal se o referendo confirmasse Filipe e o trono. Porém, admitindo que não (para deixar as redes mais felizes…), e que Filipe abdica e vai fazer companhia a uma colecção de pretendentes, como aconteceu de resto com o seu próprio avô, o que eu não tenho a certeza é que todos os das redes se apercebem que questionar a monarquia tem grandes possibilidades de se tornar numa porta escancarada para que também se questione toda a estrutura constitucional em que assenta a Espanha moderna, a começar pela questão não despicienda da sua própria unidade.
Vale a pena recordar aqui que o último referendo sobre o tema da manutenção da monarquia correu mal para os republicanos: foi em 1999 na Austrália. Mas aqueles que entre os espanhóis acham que vale a pena correr esse risco (e não restam dúvidas que, se o vencesse, Filipe VI ocuparia o trono com a legitimidade política acrescida), não se podem esquecer que há actualmente todo um outro conjunto de referendos bloqueados na política espanhola, a começar pelos que levantam a questão das nacionalidades, casos maiores da Catalunha e do País Basco, ameaçando a integralidade da própria Espanha. Não é por acaso que, por exemplo, as federações do PSOE que abraçaram mais entusiasticamente a ideia do referendo à monarquia também vêm das periferias, Galiza e Baleares, e também não é por acaso que Alfredo Pérez Rubacalba, o secretário-geral do partido, apesar de demissionário e na oposição, se dispõe a frear tal entusiasmo, que ele sabe se irá revelar a prazo contrário aos interesses da Espanha castelhana.

2 comentários:

  1. O Herdeiro de Juan Carlos deveria colocar, ele próprio, o assunto na agenda política. Ou seja, discutir o regime e a Constituição. Por princípio sou republicana, mas percebo que há muito mais em jogo do que a substituição de um Rei por um Presidente da República. Mas talvez fosse agora a altura certa para o fazer.

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  2. Caro António

    Parabéns pelo teu artigo, em especial por referires que o eventual referendo à monarquia, tornaria politicamente irrecusável a realização de outros referendos, nomeadamente os relativos à independência da Catalunha ou do País Basco.

    Um abraço

    Pedro Cabral

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