07 junho 2014

«ACHTUNG»

Berlim à noite, 1961, junto à porta de Brandeburgo mas alguns meses antes de Agosto, quando a construção do Muro transformou irremediavelmente a paisagem da cidade. Tudo o que aparece na fotografia tem um cunho inequivocamente germânico. Não é apenas o aviso Achtung informando-nos que para lá dele se está a abandonar Berlim Ocidental. São as cores baças do conjunto da fotografia. É a cor verde e o boné branco da farda do polícia. E é o próprio Ford Taunus 12M com aquele falso globo ao centro da grelha num requinte estético de que só os alemães se podiam lembrar. Para além disso, duas bandeiras enfeitam a paisagem: à direita a tricolor alemã (negro, vermelho e ouro), onde se divisa um escudo que só poderá ser o da Alemanha dita Democrática e à esquerda a bandeira vermelha onde a estampagem da foice, do martelo e da estrela soviéticas ainda são mais deduzidos do que na bandeira anterior.

Os alemães que viviam do outro lado gozavam do privilégio de terem passado directamente de uma ditadura nazi para uma ditadura comunista, dois regimes igualmente totalitários que aqueles que se viram submetidos a ambos terão grandes dificuldades em distinguir na repressão concreta, apesar das aparências dos temas de propaganda que os pretendia anatagonizar. Recentemente vi no facebook uma apropriada alusão que, a pretexto dos resultados das últimas eleições europeias, questiona associando aquelas duas ideologias totalitárias: fascismo e comunismo (abaixo). Foi o início de uma deplorável colecção de comentários (159 no momento em que escrevo) da autoria daqueles que, mesmo 25 anos da queda do Muro continuam a recusar-se a ver o que qualquer habitante da antiga Alemanha dita Democrática os poderia esclarecer: que viver sobre a alçada de uma Stasi não se distinguia substancialmente de uma Gestapo.

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