Esta sociedade que gira à volta dos blogues já tem idade para ter gerado as suas próprias histórias. Havia (há?) um companheiro de lides que se tornou conhecido pelo seu trabalho cívico de ir recolhendo fotografias documentando a impunidade do estacionamento selvagem pelos vários sítios que frequentava. Era um trabalho ilustrado (acima e abaixo) complementado pela denúncia de outras incivilidades, de que recordo particularmente a descrição de um episódio de um restaurante no Algarve explorado por estrangeiros onde, ao contrário do que estabelece a lei, apenas se apresentavam menus em inglês aos clientes. Da historieta que li narrada no blogue ficou-me a dúvida sobre o que fora feito para além do que lia e perguntei directamente: e o livro de reclamações? Não havia. E chamar a GNR para lavrar a competente queixa? Não, que havia uma senhora de idade no grupo que ficaria muito incomodada com o incidente. Mas foi-se embora sem consumir, ao menos? Não, comeu e calou – concluí eu de uma resposta que era compreensivelmente mais redonda nas explicações. Ficava a denúncia: um profundo incómodo para os donos do restaurante - apetece ironizar. Estava-se perante um cidadão repleto de um sentido cívico peculiar. Civismo sim, mas desde que não lhe causasse chatices. Fotografias de viaturas mal estacionadas sim, mas com as matrículas apagadas, que o autor delas não quer passar por bufo, apesar das incessantes denúncias!
Assemelhava-se a uma atitude de quem, mais do que estar preocupado a ajudar Portugal a chegar a algum lado, prefere optar por lamuriar-se que assim Portugal não chega a lado nenhum. É o mesmo tipo de atitude que me está a cansar em Pedro Passos Coelho mais as suas repetidas queixas a respeito do comportamento do Tribunal Constitucional. Não se percebe tanta queixa quando há apenas que compreender que, com a oposição socialista em frangalhos, este momento político é o ideal para que o PSD e a maioria avancem para eleições antecipadas tendo precisamente essa questão da realização de uma profunda revisão constitucional no centro da agenda política dessas eleições. Se a questão fosse linear e com a multiplicação dos episódios, certamente que os portugueses já se teriam apercebido das limitações ao exercício do poder de que Passos Coelho se queixa e, mostrando-se confiante da compreensão dos portugueses no percurso político que percorreu até agora, os eleitores só o haviam que o recompensar com uma maioria eleitoral reforçada que lhe permitiria posteriormente rever os aspectos da Constituição que neste momento opõem os dois órgãos de soberania. Mas não. Pedro Passos Coelho saberá que a maioria dos portugueses não o segunda nesta confrontação e tudo o que se tem vindo a passar não passará de um esbracejar exuberante mas inconsequente, parecido com o civismo daquele nosso amigo do parágrafo lá de cima…
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