Em princípios de 1951 tudo se conjugava para que houvesse o embate final entre o presidente Truman e o general MacArthur a propósito da condução da Guerra da Coreia. A administração democrática queria manter o conflito circunscrito à Coreia, o general proclamava para quem se mostrasse disposto a ouvi-lo, que se tratava apenas de uma etapa preliminar da cruzada contra o comunismo. Mundo fora, em quase todas as outras capitais este género de discurso parecia o prenúncio assustador de uma III Guerra Mundial. Mas aquilo que mais assustava Washington é que as conversas privadas de MacArthur eram de igual teor. Os seus serviços secretos sabiam, por exemplo, que o major-general Charles Willoughby (abaixo), o oficial de informações da 2º Repartição de MacArthur e um seu braço direito, confirmara pessoalmente as intenções de MacArthur aos embaixadores português e espanhol em Tóquio, uma confirmação de que os dois diplomatas se apressaram a notificar as respectivas capitais, sob o escrutínio dos serviços de escuta e desencriptação dos norte-americanos que as interceptaram. É evidente que quando Harry Truman demitiu Douglas MacArthur em Abril de 1951, essas peças de espionagem eram apenas algumas de outras tão ou mais graves e não foram invocadas, mas esta pequena história é uma forma de mostrar a importância, mesmo que involuntária, de Portugal em acontecimentos que decorreram do outro lado do Mundo, para além da constatação que, desde sempre e descaradamente, os Estados Unidos procuraram ouvir as conversas privadas de todos: aliados e adversários.
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