A fotografia acima foi tirada na Praça de Londres de Lisboa no período que imediatamente se seguiu ao 25 de Abril de 1974. No cartaz lê-se: A Classe Operária do Bairro da Liberdade apoia o Movimento das Forças Armadas. Viva a Liberdade! Viva a Classe Operária! Adivinha-se em quem o redigiu o dedo de Lenine e uma solidez de conhecimentos políticos teóricos mais do que qualquer genuína consciência de classe. É a referência por extenso ao Movimento das Forças Armadas que data a fotografia, antes dele se ter transformado no muito mais prático MFA, sigla de que todos os portugueses vieram a conhecer o significado. A localização da fotografia também não será casual, tendo ao fundo o letreiro do Ministério das Corporações e Segurança Social, empregando uma nomenclatura que seria um dos últimos vestígios ideológicos do regime deposto na sua negação da conflitualidade intrínseca às relações laborais. Não tardaria a ser substituído pela designação de Ministério do Trabalho. E típico da negligência portuguesa (numa característica que é transversal a qualquer regime, Revolucionário ou Reaccionário), o outdoor dependurado da 3K ainda nos prometia, em plena Primavera, presentes de Natal...
Mas aquilo que tornará a fotografia mais politicamente engajada (para quem conheça as referências) será o enquadramento escolhido pelo autor (ignoro quem tenha sido), defronte da cabeça da manifestação e no mesmo plano dos manifestantes, numa estética que se vai inspirar obviamente no exemplo do quadro (que naquela época já se havia tornado de referência) O Quarto Estado, que fora pintado pelo italiano Giuseppe Pellizza (1868-1907) cerca de 75 anos antes (acima). Ainda hoje, muitos dos que por lá passaram não sabem que muitas das referências que então utilizaram e que agora consideram tipicamente suas nos seus baús de memórias não passaram de reciclagens vindas de outras paragens, rapidamente colocadas ao serviço da Revolução portuguesa. Só para (mais um) exemplo, os manifestantes da fotografia bem poderiam estar a clamar naquele momento que o povo unido jamais será vencido! sem saberem (e desconhecendo-o possivelmente ainda hoje) que, tais palavras de ordem tão inspiradoras, se tratavam da tradução de um slogan e de uma canção que haviam sido criados no Chile um ano antes.
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