As minhas recordações de infância dos nadadores salvadores é que… não existiam. Quanto muito, o que existia eram umas tabuletas enterradas na areia (como a que se vê abaixo), com uma boia de cortiça amarrada a umas valentes dezenas de metros de cabo e uma folha de instruções afixada, descolorida e quase ilegível de tanto queimada pelo Sol, onde se explicava sumariamente ao potencial utilizador o que haveria a fazer em caso de emergência. Na única vez que recordo que alguém se dispôs a utilizar o dispositivo, o cabo revelou-se emaranhado para além de qualquer utilidade, e vale a pena acrescentar que o banhista se salvou, só que isso aconteceu apesar das infra-estruturas existentes para a sua salvação…
Os nadadores salvadores da minha adolescência, existindo, não eram de molde a que eu passasse a desenvolver mais respeito pelos socorros a náufragos. Tisnado de quatro meses de exposição ao Sol, com os eternos calções vermelhos de uniforme e o maço de SG Filtro com o isqueiro lá dentro por equipamento único, o Cintra e o seu farfalhudo bigode, emblemático do português típico dos anos 70 (abaixo), nunca me pareceu uma segurança para os banhistas, antes um perigo para as camones por causa da sua actividade predilecta de engate, empregando um inglês inesquecível, não propriamente rico no vocabulário mas vincado na pronúncia, um antecessor do hoje conhecidíssimo e celebrado Zezé Camarinha.
Certa ocasião, um banhista teve um ataque de epilepsia, formou-se a tradicional roda de curiosos à sua volta quando chegou o Cintra que, sem cuidar de perguntar o que acontecera e vendo-o pelo chão rebolando na areia, reagiu franchisado saltando para cima dele para a manobra de reanimação: foi bonito vê-lo a voar disparado como um cow-boy em cima de uma rês num rodeo… Era adulto e já pai de filhos quando a série Marés Vivas (Baywatch - mais acima) apareceu na televisão para me mostrar que a actividade de nadador salvador podia ser não apenas respeitável como sofisticada, além de poder envolver gajas boazonas como Pamela Anderson, muito para além do alcance das bifas que o Cintra parecia sacar.
De facto, as praias portuguesas de começo dos anos 70 tinham pouco a ver com o "Baywatch": na que eu então garoto frequentava, o nadador-salvador era denominado, como à época sucedia, por "banheiro". No caso concreto, era um ex-pescador, de trato rude, mais dado a meter-se com os copos de vinho do que com as "bifas" (no sítio, também eram então coisa rara).
ResponderEliminarUma outra figura típica das praias, nesta altura, era o cabo do mar: trajava como um praça da Armada, com a excepção de usava calções e andava municiado com um "casse tête", símbolo visível da sua autoridade. Ao tempo, creio que já não multava as mulheres que envergavam "bikini", mas cobrava uma taxa às pessoas que tinham chapéu de sol na praia, como era o caso dos meus pais.