11 fevereiro 2014

FILAS NA NEVE

Em 1955 Robert Doisneau tirou esta fotografia de uma fila de esquiadores cuja inspiração ele terá ido provavelmente buscar a uma outra famosa fotografia que havia sido tirada 57 anos antes na portela de Chikoot, por ocasião da corrida ao ouro do Klondike, no Canadá (abaixo). Semelhantes na estética, as fotografias são porém totalmente diferentes naquilo que representam: a descontracção lúdica, embora cansada, dos esquiadores que aparecem na primeira de esquis ao ombro, nada tem a ver com o frenesim dos prospectores da outra, de equipamento às costas (porque a inclinação acentuada daquele local impedia que ele fosse transportado por animais de carga), em busca de um golpe de sorte que lhes transformasse a vida. Há quem não consiga compreender estas diferenças e a profundidade dos problemas mas o que se esperaria de um presidente da República seria a capacidade de analisar para além dessas aparências estéticas.
Os números do desemprego recentemente anunciados, para além de números propriamente ditos,  parecem não poder evidenciar a evolução sociológica, a mudança de paradigma (para empregar uma expressão da moda) na sua composição de que muito se tem falado: a de um grupo etário (45+ anos) que, depois de desempregados e desencorajados de reencontrar qualquer emprego se vai sumindo discretamente dos números do desemprego (e das filas dos desempregados) à medida que o direito ao subsídio se esgota. É que para promover os números (porque serão favoráveis…) existe o governo. E para os criticar existe a oposição. Mas só o presidente de todos os portugueses é que poderia (deveria?) ter aproveitado a ocasião do anúncio dos números para umas palavras de simpatia e encorajamento para com esses portugueses que se vêem na perspectiva de nunca mais ter emprego para o resto das suas vidas.

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