As petições públicas na internet parecem ter chegado para ficar. Só que, ao contrário do velho anúncio da Toyota, elas ganharam notoriedade pelas piores razões. Já aqui me pronunciara sobre uma delas que me irritou particularmente, a que solicitava a demissão do presidente da República, petição essa que, a certa altura da sua carreira, se ufanava dos 40.000 subscritores que já conseguira angariar (hoje tem 42.000), sem cuidar de tomar em conta que o presidente em causa fora reeleito no ano anterior ao do evento com 2.230.000 votos (embora, tenha que confessar, entre estes últimos não se contasse o meu).
Considerava eu que a promoção deste género de petições públicas se tivesse tornado uma daquelas terapias ocupacionais inócuas, patrocinada por aqueles imbecis que se convencem que estão sempre mais convictos das suas convicções do que o resto da humanidade, quando me apercebi que alguns deles haviam escalado o disparate, ao apresentar uma delas, robusta das suas 139.000 assinaturas, ao parlamento. O objectivo desta vez seria o de extinguir um programa semanal de opinião de José Sócrates (acima), a pretexto de ele ser transmitido na RTP, estação pública (e eu, que também não aprecio certas facetas de José Sócrates…).
Poder-se-ia recomeçar por colocar o número de subscritores em perspectiva: eles são menos de metade dos votos que foram recolhidos pelo Bloco de Esquerda – que é o menor partido com representação parlamentar (8 deputados) – nas últimas eleições legislativas de 2011. Mas parece-me mais importante criticar a iniciativa qualitativamente, ao mesmo tempo que se saúda a rejeição que tal disparate de petição recebeu dos parlamentares: é que os promotores e subscritores, vivendo à sombra de um regime democrático, parecem não fazer a mínima ideia dos fundamentos de respeito pelas opiniões adversas em que ele tem de assentar.
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