01 fevereiro 2014

COISINHA POUCA…

Ontem, o Secretário de Estado do Orçamento Hélder Reis anunciou numa audição da Comissão Parlamentar do Orçamento e Finanças que o valor da dívida pública havia atingido no final de 2013 os 129,4% do PIB. O facto recebeu um tratamento noticioso discreto, fenómeno tanto mais evidente quando o comparamos com o que foi recebido pelos números do desemprego, onde a nenhum órgão de comunicação social terá escapado que a descida se registava pelo 10º mês consecutivo ou que a diminuição desde Dezembro último se cifrava nos 1,9%. Foi uma pena que aqueles mesmos órgãos de comunicação social não quisessem ter dedicado ao indicador anunciado por Hélder Reis o mesmo género de tratamento, assim mais aprofundado…

É que teriam descoberto que há precisamente 21 meses (nem há dois anos, portanto), em finais de Abril de 2012, o Ministro das Finanças Vítor Gaspar havia previsto que a dívida pública atingiria um máximo em 2013, quando se cifraria em valores equivalente a 115,7% do PIB, para depois cair 12 pontos nos três anos seguintes. Três meses depois, em Junho, e pondo fim às minhas expectativas sobre a competência de Vítor Gaspar em compreender sequer o que se estava a passar, já ele revira esse máximo para os 118%. Em meados de Fevereiro do ano passado (há menos de um ano, portanto), já esse outro valor fora ultrapassado e as novas expectativas já se cifravam na ordem dos 122,2%. Ainda em Setembro passado, aproveitando provavelmente o facto de Gaspar se ter demitido e de poder assim arcar com as culpas, a previsão daquele indicador para 2013 levara uma martelada de mais de 5 pontos para cima: 127,8%. O anúncio de Hélder Reis de ontem, dos discretos (mas nem por isso menos concludentes) 129,4% demonstram que nem assim a previsão se aproximou do que parece ser o resultado final (provisório).

Ou seja, em 21 meses, as previsões sobre o que viria a ser o máximo da nossa dívida pública aumentaram num valor equivalente a 13,7% do PIB, qualquer coisa como quase 23 mil milhões de euros, num encadeado de rectificações que representariam um ritmo ligeiramente superior aos 1.000 milhões de euros por mês… São daquelas coisas que acontecem para depois pôr Pedro Passos Coelho a discursar, obtuso ao significado do que estará a dizer, descrevendo-as como tendo evoluído razoavelmente em linha… Mas o problema aqui nem sequer é político, sobre quem terá as melhores soluções para a redução da nossa dívida pública, é, tão-somente, técnico: não haverá por aí ninguém que consiga dar, ao menos, mostras de monitorar e antecipar com um mínimo de eficiência aquilo que está a acontecer às nossas finanças públicas?

Adenda de 21/Ago./2014: No final de Março de 2014 a dívida subiu para 132,4% do PIB e em finais de Junho do mesmo ano para 134,0%. As previsões governamentais (130,2% no final deste ano) andam, mais uma vez, a milhas da realidade. Os comentários são dispensáveis. 

1 comentário:

  1. Em resposta a sua questao.
    Haver ha. O problema e que nao tem direito a tempo de antena por nao pertencerem ao quadrante ideologico da classe dominante.

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