Os suíços são um povo de que não se gosta: são reservados, são xenófobos, são enfadonhos. Até o Astérix entre os Helvécios (acima) é uma aventura esforçada, por causa da falta de graça intrínseca dos nativos. Mas têm um sistema político arcaico e substantivamente mais democrático do que a maioria dos restantes países ocidentais. Estão sempre a organizar referendos para que os cidadãos se pronunciem sobre os mais variados assuntos, o que pode conduzir a resultados considerados absurdos: o voto das mulheres, por exemplo, só veio a ser adoptado para as eleições federais de 1971 ou então a adesão da Suíça (que até era a sede de alguns dos organismos da organização) à ONU que só veio a ter lugar em 2002 – ou seja, no mesmo ano da admissão de Timor-Leste! Mas a verdade é que a esmagadora maioria dos assuntos referendados não são tão controversos quanto os mencionados e as opções que são assumidas na sequência das votações referendárias possuem indiscutivelmente uma legitimidade política acrescida quando implementadas. É o sistema dos suíços, dão-se bem com ele e não parecem querer mudá-lo.
É um sistema que haveríamos de respeitar democraticamente, mesmo quando o seu resultado não viesse de encontro ao que desejamos. Já me cansei de ler por aí críticas, que vão desde as frontais até às abordagens de cernelha, ao resultado do referendo que teve lugar no fim-de-semana passado na Suíça, a propósito da imigração. E nada haveria a dizer das discordâncias: a) Se elas mostrassem o respeito devido à vontade popular expressa por intermédio do voto livre; b) Se a opinião fosse coerente com princípios enunciados no passado.
É por causa disso que dá gosto ler Daniel Oliveira a escrever sobre estes assuntos como se se tratasse de um assunto de futebol: É que podemos ler os argumentos como ele agora condena a decisão dos suíços em contradição completa com os argumentos que ele apresentou faz uns dois anos a propósito de um referendo (que não chegou a ter lugar) entre os gregos. Aquilo que foi por ele condenado naquela época - e bem - por não se ter dado oportunidade aos gregos de terem voz, é agora condenado pelo mesmo quando os suíços tiveram - felizmente - oportunidade de se exprimir, curiosamente com argumentos muito parecidos aos que então se opunham ao referendo grego. Na prática e por detrás de dois textos prolixos mas não coerentes, Daniel Oliveira mostra que a democracia directa é boa desde que o povo valide as opiniões dele. Ora quando a coerência e os princípios que deveriam estar por detrás dela chegam a este ponto não há melhor refutação do que a futebolística, seca e grossa, a mesma que Jorge Gabriel emprega no vídeo abaixo , em directo na TV, para rejeitar a opinião de Manuel José: o Daniel Oliveira é um democrata o caralho…
É por causa disso que dá gosto ler Daniel Oliveira a escrever sobre estes assuntos como se se tratasse de um assunto de futebol: É que podemos ler os argumentos como ele agora condena a decisão dos suíços em contradição completa com os argumentos que ele apresentou faz uns dois anos a propósito de um referendo (que não chegou a ter lugar) entre os gregos. Aquilo que foi por ele condenado naquela época - e bem - por não se ter dado oportunidade aos gregos de terem voz, é agora condenado pelo mesmo quando os suíços tiveram - felizmente - oportunidade de se exprimir, curiosamente com argumentos muito parecidos aos que então se opunham ao referendo grego. Na prática e por detrás de dois textos prolixos mas não coerentes, Daniel Oliveira mostra que a democracia directa é boa desde que o povo valide as opiniões dele. Ora quando a coerência e os princípios que deveriam estar por detrás dela chegam a este ponto não há melhor refutação do que a futebolística, seca e grossa, a mesma que Jorge Gabriel emprega no vídeo abaixo , em directo na TV, para rejeitar a opinião de Manuel José: o Daniel Oliveira é um democrata o caralho…
Adenda do dia seguinte: Uma investigação pericial às palavras de Jorge Gabriel mostrou que ele apenas concordou que o carácter
havia sido morto, e não a imprecação que e eu e outros lhe atribuímos. Não é apenas
a língua portuguesa que pode ser muito traiçoeira, a forma como as palavras são
pronunciadas também, mas sobretudo – e penso que terá sido a explicação principal aqui – a
predisposição de quem ouve.
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