Friedrich Engels (1820-1895) nunca esteve na Ucrânia. Isso não invalida que, para mal dos seus pecados e durante mais de 70 anos, todos os ucranianos tenham tido que saber quem fora Friedrich Engels, nomeadamente as suas contribuições teóricas para a explicação da origem da família, da propriedade e do estado. E é mesmo a propósito de propriedade e associando-o à revolução que grassa na Ucrânia que suponho não se tornar descabido relembrar um slogan descritivo que se popularizou faz uns nove anos, quando a facção ocidentalizada da política ucraniana alcançou o poder com a eleição para a presidência de Viktor Yushchenko¹: tratara-se de uma revolta dos milionários contra os bilionários ucranianos.
Contudo, nesta nova revolta de 2013-2014, não tenho dado por que se tenha repegado naquela dinâmica de luta de classes. Se as análises se apresentam repletas de considerações geoestratégicas sobre os alinhamentos de sempre das facções em contenda (onde se antagonizam uma pró Ocidental e outra pró Russa), as imagens que têm sido captadas e distribuídas Mundo fora não parecem conter qualquer sugestão de luta de classes como motor da revolta dos ucranianos. Será assim pela sua excepcionalidade que destaco este breve vídeo abaixo, onde um grupo de insurrectos aparece a dedicar-se, com algum deleite e evidentes ganas vingativas, à destruição de um Porsche, um inequívoco símbolo do capitalismo.
¹ De então para cá a sua influência política esboroou-se: o seu partido recolheu 1,11% dos votos nas últimas eleições legislativas de 2012.
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