Este é um instantâneo panorâmico de várias dezenas de bestas que, depois de mostrarem as suas últimas preocupações com os excessos das praxes académicas, se aprestam sofregamente para, com a profundidade do costume, se pronunciarem agora, na forma indignada e ultrajada a que nos habituaram, sobre leilões de quadros de Miró. Contudo, para demonstrar pela positiva que a agenda noticiosa não é apenas constituída por superficialidades como as descritas acima, de desgaste rápido (deitemo-nos apenas a adivinhar o que lhes terá acontecido, às duas notícias, daqui por uns dois meses…) e profundidade pouca, exemplifiquemos para contraste com a notícia publicada pelo El País no princípio do mês, a partir das actas confidenciais do FMI a que o jornal terá tido acesso, que parece demonstrar que a banca alemã, francesa e holandesa não cumpriu os compromissos que os respectivos países haviam assumido de manter os títulos da dívida grega na sua posse, para evitar o agravamento da crise financeira da zona euro e não dificultar a eficácia da intervenção a que a Grécia seria sujeita. Sobre a veracidade (não desmentida) da história, sobre o que ela pode significar em termos de seriedade dos grandes agentes financeiros, sobre o que dela podemos extrair de solidariedade política concreta entre os países da União Europeia e finalmente pela sua importância (que não se esgotará nos próximos dois meses...), adoraria que o tema se fixasse para discussão por uma semana que fosse, nas pantalhas e nas primeiras páginas dos nossos jornais.
É sempre interessante vê-lo a progredir, Lavoura, com comentários mostrando-o a entender que não entende, quando no passado já o tive por aqui pensando-se entendedor de tópicos sobre os quais também não entendia nada. Contudo, ao contrário do que escreveu, a sua falta de entendimento não é pura, embora possa ser simples, como costumam ser de resto todos os seus outros pensamentos que tem vindo a fazer o favor de partilhar nas caixas de comentários deste blogue.
ResponderEliminarMau grado tudo isso, reconhecendo-lhe o esforço e numa tentativa – quiçá baldada – para que entenda, sugiro-lhe que – se ainda não o tiver feito, como suspeito, porque o tenho na conta de burro mas desbocado e não aplicado – leia a cópia da acta da reunião do FMI que consta anexa da notícia do El País. E pergunte-se, de acordo com os pressupostos que enuncia:
a) Porque é que os representantes no FMI de países como a Alemanha, a França ou a Holanda se puseram a assumir naquele fórum compromissos que, segundo o que escreveu, não tinham sequer capacidade de assumir?
b) Mais importante, porque é que os representantes dos outros países presentes (China, Suíça, Brasil) terão tomado (ingenuamente porque impraticável, deduzir-se-á do que escreveu) esse compromisso daqueles três países europeus como bom?
O FMI é uma organização que vai a caminho de completar 70 anos, portanto com uma metodologia de funcionamento já há muito estabelecida. Compromissos do mesmo ou de teor muito semelhante já terão decerto sido tomados anteriormente, antes do caso grego destacado pelo El País. O que deve ser mais raro é que os países faltem descaradamente aos compromissos como terá acontecido neste caso. E a prova que haverá muita gente no FMI lixada com a sacanice de alguns dos nossos “parceiros europeus” é que o caso foi “plantado” naquele jornal espanhol com cópia da acta de reunião e tudo.
Em resumo, para parafrasear o título de um filme dos irmãos Cohen (Este país não é para velhos), este blogue não é para si, Lavoura.
Lavoura, é sempre bom ver que se aplicou um pouco e que finalmente foi ler aquilo que aqui criticara superficialmente e, mesmo que o pareça ter feito à procura apenas de argumentos que corroborem as suas ideias prévias, nota-se como essa leitura lhe alarga os horizontes, como o faz arranjar novos pretextos para tentar implicar…
ResponderEliminarJá vi vários casos em que as traduções se cuidaram de traduzir uma palavra para preservar as subtilezas do seu significado na língua original. Não é o caso de “commitment” e não percebo porque não a traduziu. A primeira definição que aparece no dicionário da Porto Editora devia ser cristalina, até para si: “obrigação”. É uma palavra que não parece nada equívoca no seu significado. Se a banca de um determinado país, por intermédio dos seus representantes no FMI, assumiu esse compromisso taxativo naquela organização e os resultados são os que hoje se observam é porque ele não foi cumprido. Esse “enxota culpas” que tenta impingir é ridículo.
Não terá sido a primeira vez que alguém, neste mundo, não terá cumprido, nem será decerto a última mas a única coisa que é certa é que naquele mundo, o que aconteceu tem um preço. E não estranharei que numa oportunidade futura em que isso se propicie, os hoje ludibriados vão fazer o país em falta, a banca em falta desses países em falta, ou mesmo um dos bancos dessa banca em falta, que se encontre(m) em situação mais vulnerável, sentir que estão a levar com aqueles “commitments - e em homenagem às suas expressões em inglês - up in their asses”.