«TRANSIÇÃO NACIONAL»

Sempre associei o ensimesmamento ao PREC, época em que a nossa actualidade política era tão dinâmica que nem acompanhávamos os principais acontecimentos internacionais: em Espanha, a 20 de Novembro de 1975 morria Franco, mas por cá as nossa atenções estavam focadas nos acontecimentos que iriam conduzir ao 25 de Novembro. Também ontem, com as novas medidas de austeridade que se anunciaram, nem sobrou discernimento para atribuir a devida importância à gigantesca manifestação de 1,5 milhões de pessoas que teve lugar em Barcelona em prol da independência da Catalunha, por detrás de uma eufemística transição nacional para a independência. Embora em Espanha se seja especialista em empolar o número dos manifestantes, não restam dúvidas que as dificuldades colocadas pelo governo central madrileno para acudir às recentes dificuldades financeiras do governo regional catalão não estão a contribuir para reforçar uma tradicionalmente problemática coesão espanhola. Registe-se a atenção dos nacionalistas catalães ao escolherem a palavra transição, uma alusão ao processo não traumático que em 1977 vez evoluir a Espanha de uma ditadura para uma democracia, sugerindo que o retalhar da Espanha também pode ser indolor. Se Passos Coelho está lixado, não se inveje Rajoy...