Não sei se
ainda se recordarão da Dra. Rute Remédios, uma sexóloga inventada e representada por
Herman José, senhora de uma ousadia despudorada e cuja expressão identificativa
era «o sexo, puro e duro, como todos nós gostamos…» Parecia que por aquela cabeça
jamais teria passado a hipótese que o sexo podia ser praticado de formas mais
ternurentas. Não se tratando agora de métodos de praticar sexo mas sim das
formas de expressão política, à eurodeputada bloquista Marisa Matias deu-lhe
uma pancada muito semelhante no caso bem concreto das formas de expressão do
nosso desagrado com as recentes propostas governativas.
Ainda pensei que a
expressão quem faltar às manifestações deste Sábado está a dizer que aceita as
medidas do governo fosse um empolamento jornalístico, mas quem se disponha a ouvir as suas declarações à Antena 1 aperceber-se-á que a transcrição é uma síntese
correcta daquilo que ela disse. Atrás de um erro teórico crasso¹, parece haver
ali uma tentativa grosseira de manipular a expressão do nosso enorme
descontentamento para que se conclua que só pode existir a atitude preconizada
por eles, radicais. Só nos faltava mesmo era, nesta confusão, virem-nos mais estes
a dizer dogmática e totalitariamente que não há terceiras vias…
¹ Marisa Matias deveria saber que os Amanhãs que cantam que ela usa
como imagem de um objectivo para que este governo nos aponta e nunca alcança, foram
uma referência lírica (e agora irónica) aos futuros paraísos comunistas. É uma
referência que tem uma conotação ideológica desajustada deste caso de
capitalismo liberal. Poderia ter usado expressões como El Dorado ou Shangri-la
mas suponho que isso seria pedir demais de Marisa Matias…
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